Salvando o Mundo

 

Feministas pensam que mulheres feministas vão salvar o mundo, já que se ele for salvo por mulheres que não são feministas, aí não conta ponto no placar das meninas. A dura verdade é que feministas não são capazes nem de salvar mulheres no Afeganistão, que dirá o mundo.

Adoro esses filmes em que mulheres fortes e corajosas que não precisam de macho para nada salvam o mundo, mas não devemos nos esquecer de que essas obras de ficção empoderada são fantasias de efeitos especiais de gênero criadas pela indústria do cinema para nos entreter. Na vida real, quando a água bate na bunda, o caldo entorna e a maionese desanda, as coisas não funcionam bem como mostra Hollywood.

Você está provavelmente acompanhando o noticiário anunciar que voluntários em botes estão tentando resgatar vítimas da enchente no Rio Grande do Sul, e uma força tarefa de vários estados foi montada para auxiliar a população gaúcha nesse momento de calamidade pública. Ganha meia goiaba bichada com requeijão quem adivinhar o sexo desses iluminados indivíduos. Quando o gênero dos que estão fazendo algo extremamente importante para a sociedade não é anunciado, já sabemos de qual sexo estamos falando.

Curiosamente, há pouco tempo viralizou com força nos EUA o meme de que mulheres preferem ficar presas com um urso do que com um homem na floresta. Supostamente ursos são mais seguros porque basta levantar os braços e gritar que eles correm apavorados. Ironicamente, ursos não têm medo de mulheres, mas de homens. Eles evoluíram para temer humanos porquê, durante milênios, milhares de homens morreram enfrentando esses animais para manter mulheres e crianças em segurança nas aldeias. 

O resultado da masculinidade tóxica na balança é um mundo onde mulheres podem andar na floresta se achando a perigosona das galáxias porque conseguem afugentar ursos no grito enquanto fantasiam que homens são uma sub-espécie obsoleta e decadente de humano que faria do mundo um lugar mais seguro para mulheres caso desaparecessem. Quando mulheres existem em um mundo onde a coisa que elas mais temem são homens, elas já estão no paraíso, um paraíso, no caso, construído e ainda mantido pelas criaturas que elas temem. 

No filme After Earth (2003), Will Smith e seu pimpolho caem com sua espaçonave em um planeta fictício onde tudo é projetado para matar humanos. Esse planeta na realidade existe, já que moramos nele. A natureza é uma assassina caprichosa e não está interessada em validar seus sentimentos. Quase tudo que existe lá fora quer nos comer, comer nossa comida ou nos matar. Isso não ocorre porque homens construíram esse casulo artificial que chamamos de civilização, a estrutura capaz de manter os elementos lá fora para que mulheres se sintam seguras para insultar e ridicularizar homens nas redes sociais, e rir do quanto homens são escrotos, frágeis, inúteis e inadequados. Como se não bastasse, esses encostos ainda não acham o clitóris. Fiasco completo.

Desconheço o que seria essa coisa que homens teriam que fazer para se tornarem úteis e adequados às mulheres. Na realidade, desconheço a razão pela qual homens deveriam medir seu valor no mundo que eles mesmos criaram com base no seu grau de adequação às intermináveis e inatingíveis expectativas do sexo feminino, mas se há algo que devemos concordar é que homens de fato são extremamente mais perigosos do que ursos. Isso é algo do qual mulheres deveriam se orgulhar, já que fraqueza e fragilidade não são virtudes.

Se mulheres parissem Bambis histéricos que correm amedrontados pela floresta, seriam também gazelas. Ursos estão no topo da cadeia alimentar na floresta, portanto não temem nada no seu ambiente a não ser humanos. Mulheres não são homens, mas quando esses predadores de centenas de quilos enxergam algo que se parece com um na mata, eles sabem que o melhor a fazer é manter distância. 

Milhares de famílias perderam tudo na enchente em Porto Alegre, mas a razão pela qual a cidade não seguiu o rumo de Atlântida é porque a capital é cercada por 68km de diques, e há máquinas especialmente construídas para expulsar o Guaíba de volta ao Guaíba. Toda essa parafernália foi projetada, construída e mantida por homens. Há um dique a poucos quilômetros da minha casa. Se ele romper vou ter que fugir de submarino. Homens são esse dique, são a barreira que separa o paraíso da barbárie, coisa que só lembramos quando homens falham.

Não há ursos em Porto Alegre, mas quem você acha que estaria arriscando a vida para resgatar esses bichanos peludinhos caso eles estivessem nadando em desespero em alguma rua inundada da capital gaúcha? Não, isso não é ficção nem defeitos especiais de Hollywood. Um biólogo armado somente com um tico duro e doses cavalares de masculinidade tóxica saltou na água no Golfo do México para salvar um urso de 170Kg do afogamento.

Até ursos sabem quem eles devem chamar na hora que a titica bate no ventilador. Graças à Frida, temos milhares desses gaudérios nadando contra a corrente por aqui. Ontem mesmo vi na TV um bagual que fabricou uma balsa com garrafas pet para se salvar e terminou o dia salvando uma família inteira da morte certa. Com certeza esse escroto infeliz ainda não atingiu as expectativas das meninas, portanto ainda tem muito o que melhorar para que elas concluam que é melhor encontrar ele do que um urso na inundação. Balsa chulé com garrafas pet é coisa de moleque cagado. Se não aparecer com jet ski ou lancha elas preferem afundar abraçadas com seu ursinho.

Lembrem-se sempre, menines: nem todo homem, mas sempre um homem.


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