Autor
Autor não tem gênero. Quando nos referimos a autoras, sabemos que todos os integrantes do grupo são do gênero feminino. Ao fazer referência a autores, entretanto, já não sabemos sobre qual dos setenta e dois gêneros catalogados e a catalogar estamos falando. Isso mostra que a língua é não inclusiva, já que, ainda que sejam criados os setenta pronomes adicionais, terminaremos com uma lista de inclusividade que não inclui, nem nunca vai incluir, nenhum pronome para referir-se ao homem hetero cis binário.
É assim pois masculino é gênero neutro, enquanto feminino é gênero especial. Isso significa que "todes", ou "todxs", é uma aberração que precisa assumir algo falso - a não existência de gênero neutro - com fim de criar um gênero neutro que é a antítese da neutralidade, já que tal iniciativa é não só um neologismo redundante, como é defendida por indivíduos de inclinação ideológica bastante específica com intenções absolutamente claras: fabricar um artefato cultural não existente com fim de normalizar um mundo de fantasia onde até na língua podemos encontrar opressão e perseguição.
Esse não é o único objetivo. Quando o pronome neutro que já existe passa ser um ataque à neutralidade, é de se desconfiar se isso não é uma manobra para desautorizar o discurso dos que não possuem o pronome correto, ou, em outras palavras, autorizar e ratificar o discurso pronominal, aquele que assume que é o gênero, e não aquilo que é dito, a coisa que valida o discurso. É um critério absolutamente desonesto, já que indivíduos ideologicamente motivados já possuem opinião formada sobre qualquer discurso independente do gênero do emissor.
Gênero é, ou deveria ser, irrelevante para validar qualquer argumento, mas são justamente os paladinos da neutralidade e os que lutam contra estereótipos de gênero os primeiros a atribuir pesos diferentes ao que é dito com base em gênero e a fabricar estereótipos com base em genitália. Falar é coisa de menina, calar a boca é coisa de menino. Poder interromper é coisa de menina, não poder interromper é coisa de menino. Estar certo é coisa de menina, estar errado é coisa de menino. Ser o futuro é coisa de menina, ser o passado é coisa de menino.
O mundo está genitalizado em nome da não genitalização da realidade. É um desvio de percurso dos valores que defendíamos como sagrados a não mais do que duas décadas atrás. Sócrates, dizem alguns, nunca existiu, seria apenas um personagem das histórias de Platão. Ter existido ou não, entretanto, é o menos relevante a respeito do seu discurso. Se Sócrates era um homem, uma mulher, um alienígena, uma cobra falante, ou ainda mero personagem de ficção, nada na substância do que proferiu é alterado. Para todos os efeitos, o que disse poderia ter se materializado na areia da praia por meio da ação das marés. Nenhum valor seria adicionado ou removido das ideias que atribuímos ao filósofo.
Transimone de Queervoir, ainda que isso não seja relevante, é uma mulher translésbica crossdresser, o superego trans de um idgênero fluido. Filósofa pensadeira, possui no burrículo larga experiência nas áreas de ipsthemeologia e teorética leguminosa. Tem prestado em Verdurologia Abobrósica e um pós-denturado em Stricto Sensu de Uva, além de outros sabores.
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