Queervoir

Simone de Beauvoir relutou em aceitar o rótulo de feminista, coisa que só foi fazer publicamente em 1972, possivelmente movida por razões mais políticas do que ideológicas. Sua tese sobre a emancipação feminina estava fortemente conectada à ideia da aniquilação da maternidade, um conceito ainda não incorporado ao repertório ideológico feminista na sua época. O sufrágio feminino talvez tenha sido uma das coisas que causou sua relutância, já que é sabido que ela considerava a narrativa feminista sobre o voto um imbróglio de marketing. Associar-se a esse tipo de ilusão coletiva talvez não fosse o que a filósofa tinha em mente. Embed from Getty Images Ao estudar a história do voto não filtrada pela narrativa feminista, talvez mais importante do que observar o quanto ela foi distorcida é pensar nas razões que motivaram essa distorção. Nada do que foi teorizado sobre a realidade de gênero durante a segunda onda feminista faz muito sentido quando visualizamos o que de fato ocorr

Há momentos em que é difícil saber se uma mulher está sendo falsa, mas em outros podemos ter certeza. Curiosamente, esses momentos são justamente aqueles em que a mulher consegue mentir pois conta com a conivência do macho ludibriado. Feministas, por exemplo, com frequência dizem que assédio é uma questão de gênero, e que homens não sabem o que é ser assediado. Você normalmente responde que homens também sofrem assédio, momento em que é imediatamente confrontado como o clássico e indefectível “é, mas é menos”. Esse é o instante mágico em que otários são fabricados. Otário aqui defino como o sujeito que contribui voluntariamente com quem o engana.  A afirmação de que assédio masculino ocorre com menor frequência equivale à confissão de uma mentira. Se a mulher sabia que homens são assediados com menor frequência, por que afirmou que eles não sabem o que é sofrer assédio? Obviamente o otário prossegue com a conversa sem prestar atenção a esse detalhe. Observe que é um detalhe crucial, po