O Mundo de Cinderela

 

Rollo Tomassi é o pai da Red Pill, que já está completando vinte anos. Tomassi emergiu no início do milênio da comunidade PUA, os coachs de pegar mulher, hoje defuntos e devidamente apresuntados pela era do tudo é assédio e tudo é estupro. Tomassi não tem nenhuma conexão com mgtows, mas seu livro - The Rational Male (2013) - foi adotado pela comunidade. Não li o livro, mas basta conferir algumas citações esparsas na Internet para observar que a vasta maioria do que se fala sobre mulheres entre mgtows saiu do The Rational Male, e aquilo foi sendo passado adiante de guru a guru através dos anos, cada um inventando sua própria versão, até que o entendimento inicial e a origem se perdessem no vácuo androcósmico do Youtube. Para mgtows, a red pill foi inicialmente integrada ao seu repertório sob o rótulo de "razões adicionais para não casar", e modernamente foi traduzida por mgteens para "todas as mulheres são malignas". 

Ninguém é proprietário da ideia da saída da Matrix, uma história das irmãs Wachowski. Despertar para algo que você não sabia antes sobre a realidade é uma ideia genérica que pode ser usada para qualquer coisa, mas não na androsfera, já que Tomassi é a origem rastreável da red pill que todos falam. A maioria hoje, entretanto, não só não sabe do que se trata essa tal de red pill, como tem sua própria definição do que é a red pill. Com isso temos um universo de indivíduos viajando no Cosmos sem gasolina, cada um saindo da sua própria Matrix particular e despertando em um local inventado só deles que nem eles sabem onde é.

Mgtows no início surgiram com a ideia de que casar possui riscos legais e financeiros com custo-benefício deficiente, então a solução é evitar relacionamentos de longo prazo. Tal coisa não pode ser a red pill, pois podemos encontrar indivíduos na Idade Média comentando que casamento é abraçar-se a uma granada sem pino, uma fonte de chifres, riscos legais e financeiros. O problema é que somente um desavisado acha que saiu da Matrix porque descobriu o óbvio que qualquer homem minimamente informado sabe. Não há, portanto, nenhuma red pill aqui, nem no seu sentido genérico.

Todos os homens através das eras estavam cientes, em maior ou menor grau, de que casamento, desde que a instituição surgiu, é uma empreitada de risco. Se qualquer coisa der errada e o pior acontecer, o Estado está progamado e equipado para enfiar um abacaxi King Size delícia no seu ânus sem dó nem vaselina, e tudo que você pode fazer a respeito é relaxar e gozar. Alguns até gostam. Se sentem mais másculos enquanto rebolam na fruta.

De acordo com Tomassi, MRAs nem mesmo queriam identificar-se com o termo red pill até a saída do documentário The Red Pill (2016), de Cassie Jay, que falava sobre direitos de homens. O documentário contém várias verduras a serem engolidas, mas não contém a red pill que espalhou-se originalmente pela androsfera através dos mgtows, a red pill de Tomassi. Mas o quê, então, é a red pill? Em termos simples, red pill é despertar para o fato de que mulheres não são homens, algo relevante no estudo das relações interesexo, que envolve não só a investigação da psique feminina como a programação cultural a que somos condicionados sem perceber.

A red pill, portanto, é descartável, ou mesmo inútil para indivíduos que não querem relacionamentos, já que não faz sentido algum entender a psique de mulheres ou estudar os aspectos culturais e biológicos da dinâmica interesexo se você vai se manter distante delas. Ironicamente, mgteens, que se acham redpillados, na realidade são blue pills, e continuam trancados na Matrix achando que saíram da Matrix. Por ser um blue pill, o mgteen permanece preso a um mundo de ilusões, sem entender que mulheres não são homens e fazendo julgamentos morais sobre mulheres que são típicos de quem tem expectativas idealizadas sobre elas. 

Em outras palavras, o blue pill espera que mulheres comportem-se como homens e enxerguem o mundo como eles. Quando elas não fazem isso, o blue pill conclui que algo está errado, e raciocina que a solução é que as mulheres passem a se comportar como homens, algo que não é possível, já que, como já expliquei, meninas não são meninos. O mgteen bluepillado, por exemplo, acha que hipergamia é ser uma mulher interesseira. Isso é o que ocorre com um homem que, além de não entender o que é hipergamia, vive da ilusão de que meninas são meninos e o comportamento adequado para elas é agir e pensar como um. 

O mgteen blue pill é a versão masculina da aborrecente fã da saga Corpúsculo, a menina que se decepciona profundamente ao descobrir em algum momento que esse negócio de Ed Vampirão é uma fábula de mentirinha que só existe em filme. Ao observarmos a personalidade do vampiro Edward mais de perto, veremos que Edward Corpúsculo na realidade é uma menina. Edward, por ser um personagem fabricado para mulheres, é o que elas pensam que homens são, já que os idealizam ao sonhar no seu sonho Cinderela que meninos são meninas e enxergam o mundo como mulheres enxergam. Quando eles não fazem isso, a menina blue pill conclui que algo está errado, e raciocina que a solução é que os homens passem a se comportar como meninas, algo que não é possível a não ser para feministos. 

Não sem surpresa, assim que homens passam a se comportar como meninas, eles começam a se tornar repelentes para mulheres. É isso que ocorreria com uma mulher se ela passasse a se comportar como o blue pill espera que ela se comporte: como um homem. Uma mulher que se comportasse como homem iria virar seu brother, o que significa que você iria brochar e perder qualquer interesse romântico nela.

Tomar a red pill pode ser um processo doloroso, mas a ideia final da red pill é de que não faz sentido odiar mulheres pelo fato delas não serem homens. Isso é como odiar gatos porque eles não se comportam como cachorros. Gatos não latem, cachorros não ronronam, então se você tem algum problema com isso, a culpa não é nem dos gatos, nem dos cachorros. A red pill é o que capacita o indivíduo a ter relacionamentos frutíferos com o sexo oposto, livre de expectativas fantasiosas que fatalmente irão produzir confusão, dor e ressentimento assim que as coisas passarem a não funcionar como nos contos de fadas e nas idealizações que somos culturalmente programados a fazer sobre os sexos. 

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