Hays Code

 


Já houve um tempo em que Hollywood fabricava filmes recheados de sexo, nudez, violência, rock'n'roll, devassidão e outras coisas grotescas e politicamente incorretas. Não, não estamos falando do final do século passado, mas do início, período que teve seu ápice logo após a depressão de 1929. Era presumido na época que o espectador de cinema era majoritariamente homem, branco e heterossexual, portanto a profusão de mulheres em posição de poder na tela grande é evidência adicional de que mulheres poderosas são uma fantasia¹ masculina.

É um mistério esse fetiche do macho hetero com a mulher poderosa, mistério que fica menos misterioso se considerarmos que meninas stunning & brave possuem menor aversão a risco, o que significa que mais do que provavelmente são sexualmente liberadas. Depois de futebol e cerveja, a coisa pela qual homens são mais apaixonados é a mulher que libera, mas libera com vontade. Sem medos, sem chorar, sem olhar para trás nem se arrepender do que faz. O pacote da mulher liberada inclui, é claro, liberação dos pesados compromissos emocionais e financeiros exigidos pelas menininhas medrosas que, ao contrário das poderosas que não precisam de macho para nada, precisam de macho para tudo. 

Sexo lésbico também é uma fantasia masculina, razão pela qual estava presente naquele período em que o cinema era considerado progressivo e feminista. Escândalos devassos também ocorriam nos bastidores, e havia os Harvey Weinstein da época. Para controlar a pouca vergonha e estragar a diversão da macharada hetero, William Hays, um republicano conservador e presbiteriano convicto, uniu diversas entidades religiosas para disciplinar por meio de censura o que era aceitável ser produzido por Hollywood.

Conhecido como código Hays, o documento² proibia, entre outras coisas, profanidade, nudez, violência, persuasão sexual e estupro, e sua vigência se estendeu de 1934 a 1968. Quem viu o que ocorreu no cinema após a extinção do código viu, e quem não viu não vai ver mais, pois hoje Hollywood está sujeita a outro instrumento de censura: o código Woke. 

O código Woke, imposto dessa vez por feministas que odeiam a ideia de que homens estejam se divertindo com qualquer coisa, tem o mesmo objetivo do código Hays: acabar com a diversão do macho hetero. Protagonistas femininas em posição de poder estão liberadas, mas não pode haver nudez, o que não faz muita diferença, pois a poderosa protagonista woke não pode ser sexy, feminina ou sexualmente liberada. 

Desconfio que mulheres plus size liberadas têm mais apelo sexual para o homem hetero do que a protagonista woke. Por Frida, é possível que até mesmo mulheres com penes sejam menos repelentes para o macho hetero do que as girl bosses masculinizadas e assexuadas autorizadas pelo código Woke.

Deveras interessante é a observação de que a presunção da época do código Hays, de que o alvo a ser controlado é o "male gaze" do homem branco hetero, permanece exatamente a mesma quase um século depois. Como vemos, a regra de ouro da titica perene ainda está em vigor: as moscas mudam, mas o cocô continua o mesmo. 

O olhar masculino ainda é o motor que move a indústria do cinema, razão pela qual a opinião de homens sobre o que está na tela é o foco central da notícia sempre. Quando um filme empoderado feito por mulheres e para mulheres falha, a engrenagem que diz promover o direito das mulheres de terem voz está pouquíssimo interessada na opinião delas, mas esse é um segredinho sujo e politicamente incorreto que Hollywoke não vai contar para você.


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