Blaxploitation

 



Exploitation é um gênero de filme que tenta obter sucesso financeiro copiando gêneros ou filmes bem-sucedidos. Tudo por uma Esmeralda, com Michael Douglas, é exploitation de Indiana Jones. Battlestar Galactica é um exploitation famoso de Star Wars, possivelmente uma das produções mais exploitadas da galáxia.

Blaxploitation é o subgênero étnico do exploitation. Emergiu nos anos 1970 com o objetivo atender ao consumidor afro-americano de cinema, que tinha o desejo de ver negros como protagonistas, não nos papéis coadjuvantes ou secundários disponíveis na época. Tivemos de tudo no período: desde bang bang black até dragão de ShaoLee black. Shaft, por exemplo é um blaxploitation de detetive famoso estrelado por Richard Roundtree, que sofreu reboot em 2000 com Samuel L. Jackson.

Esqueça Lashana Lynch e outras mulheres candidatas ao cargo de primeira Bondgirlboss da história. Já tivemos isso em 1973 com Cleopatra Jones, filme¹ em que Tamara Dobson interpreta uma agente black com afro-licença para matar. Marketeada como sucessora do 007,  a especialista em armas e artes marciais chutava a bunda dos mano blackfinger com força, e sua arqui-inimiga era uma perua branquela plus size invejosa e desclassificada. 

Por falar em perua invejosa e desclassificada, a próxima vez que você citar Ripley ou Sarah Connor como primeiras protagonistas femininas bad ass do cinema para provar que lacrador é retardado, já sabe que a culpa é do racismo estrutural. Tamara Dobson - a Halley Barry da época - precedeu até mesmo as Panteras originais, já que as Charlie's Angels aportaram nas telinhas somente em 1976.

Menção honrosa é necessária para Blacula (1972), protagonizado por William Marshall. Como de costume no balaxploitation, Blacula não é mero race-swapping de Dracula, mas outro personagem. Marshall não foi escalado para substituir um branco, mas para ser um vampiro black. Blaxploitation era produto genuíno da cultura negra americana, um fenômeno orgânico, de certa forma análogo ao jazz, blues, rap e hip-hop. Embora profundamente influenciado pela música branca, Miles Davis nunca foi Mozart, ele foi o black Mozart. Parece coisa de branco, mas não se iluda com as aparências: o groove é black legítimo.

O que nos restou hoje é o wokexploitation, tática empregada por produtores brancos de Hollywoke que tentam lacrar, digo, lucrar com woke swapping. O resultado é o que vemos por aí, como no reboot² de Sr. e Sra. Smith, em que Brad Pitt e Angelina Jolie são substituídos por um casal padrão diversidade racial woke: um negro e uma asiática.  Ironicamente, o wokexploitation promove o apagamento da cultura e da linguagem das comunidades étnicas que pretende representar, já que o etnicamente diverso é reduzido a figura amorfa,  um branco genérico de reposição politicamente correto que está lá para preencher cotas e atender ao "white gaze" do espectador com síndrome de salvador branco, ávido por consumir produtos que o ajudem a se sentir cheiroso, virtuoso e superlacroso.

Em teoria, é o objetivo. Na prática, o wokexploitation promove precisamente aquilo que sua agenda ideológica diz combater: divisão racial. Racialmente divisivo, diga-se de passagem, é tudo que o blaxploitation não foi. Embora produzido por negros e para negros, era também para todos, todas e todes. Com certeza contribuiu de forma substancial para diminuir tensões raciais nos EUA e solidificar a mensagem de união racial de Martin Luther King, a mesma que é hoje rejeitada pela cultura woke.

Até Karatê Kid (1984) teve um blaxploit: The Final Dragon. O filme do Daniel San black³ saiu um ano mais tarde, então vi os dois para aproveitar que estava na promoção: dois mestre Miyagi pelo preço de dois. Blacula, o chupador de sangue mais mortal que o Drácula, já está vovô demais para as modernas audiências, então uma alternativa mais atual é o Blade. Não é exatamente um blaxpoitation, mas tem o gene blaxploit e o groove black samurai do Wesley Snipes. Blade é mais do que mais mortal que o Dracula, é a criatura que o Robert Pattinson enxerga quando tem pesadelos.





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