Star Hers

 

Sempre achei que feminismo se propagava apostando na amnesia histórica do cidadão médio. Concluí, entretanto, que a coisa funciona através de repetição sucessiva de lorotas de alto grau de mentirosidade mesmo, daquelas que o sujeito é coagido a acreditar por temer ficar sem biscoito, ou para evitar acusações de machismo e misoginia.

O cartaz de Star Wars, de 1977, por exemplo, usou técnicas feministas de marketing para iludir o pagador de ingresso. As pernas desnudas da Leia são as mulheres que são mortas por serem mulheres, o decote arrojado são as mulheres que ganham menos por serem mulheres, e o tórax do Luke é o patriarcado.

O problema é que nem o modelito pega-rapaz de Leia, nem o uniforme mamãe-sou-forte de Luke podem ser vistos na vida real. Para piorar o quadro, de acordo com estudo do Instituto Imperial de Astronomia e Estatística apresentado a Lorde Vader em pessoa, havia apenas trinta caças atacando a Estrela da Morte, embora existam centenas deles no cartaz, que não passa de um truque de defeitos especiais projetado para tapear o consumidor com uma peça publicitária desconstruída. 

Justiça seja feita, seria muito caro colocar centenas de caças na tela usando efeitos práticos, e mesmo que fosse possível fazê-lo com CGI na época, o custo dos recursos computacionais necessários seria muito maior, tornando o orçamento proibitivo. A revoada de caças inexistentes que nunca atacaram a Estrela da Morte são o glass ceiling, aquela barreira de opressão patriarcal invisível que impede mulheres de serem CEO, entrar para a política ou superar homens em qualquer outra área em que ainda não foram superados. O custo de fazer essas coisas é proibitivo, portanto é mais barato e lucrativo ficar se vitimizando para sinalizar virtude e obter acesso às posições que interessam - e só as que interessam - através de cotas de gênero.

Por falar em cotas, para preencher cotas de gênero, Sharmeen Obaid-Chinoy, uma ativista feminista, foi contratada para dirigir a próxima trilogia Star Hers, a ser protagonizada por Rey Skywoker. A diretora é forte com o lado woke da Força, e já está espalhando por aí que será a primeira mulher¹ a lacrar, digo, moldar uma história na galáxia far, far away, uma afirmação mais fake que o cartaz de 1977. 

A narrativa escuramente vai ser de que a próxima trilogia será o primeiro Star Wars feminista a ser produzido, e amnésicos dirão que o primeiro já ocorreu na última trilogia The Woke Awakens. A verdade, se não me falha a memória, é que o primeiro Star Wars feminista chegou aos cinemas em 1977. No piloto da saga podemos ver o clássico script feminista de imbecilizar os personagens homens para ressaltar as virtudes da protagonista feminina forte, independente e que não precisa de homem para nada. 

Luke, Han e Chewbacca tinham um plano para entrar no calabouço da Estrela da Morte e salvar a princesa Leia, mas não para sair, razão pela qual a empoderada princesa precisou assumir o comando da própria missão de resgate para evitar que os três patetas fizessem mais patetices. Leia foi alvo de marketing feminista na época, sendo retratada como um personagem feminino original e revolucionário que desconstruía pastéis de gênero. Tudo não passou de mais uma lorota de marketing feminista, já que protagonistas femininos fortes, independentes e que não precisam de homem para nada já eram uma banalidade recorrente na década de 1970.

O cinema sempre foi pródigo em mensagens ideológicas subliminares, daquelas do tipo em que está claro que está subentendido, mas o piloto da saga é útil para entender a diferença entre o que havia antes e a cultura woke de Hollywoke, que tem menos de uma década de idade. No passado recente, o foco era a história, e mensagens ideológicas ficavam em segundo plano. Hoje o foco é a sinalização de virtude dos produtores, que gastam a maioria da sua verba de marketing para alardear o quanto estão empenhados na reprodução da mensagem.

Em segundo plano temos a mensagem, e, em terceiro, acusações de que você não gostou do resultado porque é um macho hetero branco frágil e tóxico, que não come ninguém porque tem medo de protagonistas feministas fortes, independentes e que não precisam de homem para nada no comando da história. A história, assim como a epidêmica economia, a gente vê depois.

May the Flop be with you.

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