O Adormecer da Força

 

É doloroso ver padawans mais jovens em comunidades online comentando sobre a última migalha de Star Wars no streaming, em busca de uma nova esperança para o futuro da galáxia muito, muito distante. Sempre em movimento o futuro está, mas não vejo nenhum para a franquia. 

De acordo com George Lucas, Star Wars é uma fábula para moleques de doze anos, então sinto a presença da Força ao pensar que ela foi criada para mim. Em 1983, com doze anos de idade, entrei no cinema para ver O Retorno de Jedi. Ao término da sessão, meu treinamento estava completo. Eu era agora um Jedi, como outros moleques antes de mim, no caso, os que assistiram o filme nas sessões anteriores. Ser criança é fácil. A mágica consiste em possuir conhecimento suficiente da Força para ter o poder de voltar no tempo e sair daquele cinema novamente.

Podemos viajar ao passado usando a Força, mas não trazer o passado de volta. Não pode ser feito porque os Jedi são samurais mágicos de outra galáxia, e a Força é sincretismo sci-fi entre Zen Budismo e religiões Abraâmicas. George Lucas não despejou esses elementos na cultura com Star Wars, eles estão em Star Wars porque aquela época estava submersa em uma fixação pelo Oriente, seus costumes, mitos e os efeitos da sua colisão com a cultura Ocidental. 

O processo atingiu seu clímax com Matrix, em 1999, uma fábula também repleta de misticismo sobre cybersamurais escapando da caverna eletrônica de Platão, um plot que só pode ser alucinado com o auxílio de substâncias alucinóginas. O efeito dos cogumelos místicos foi tão forte que os irmãos Wachowski acham que são mulheres até hoje. Por falar em cogumelos, Star Wars é provavelmente a única obra de ficção que fabricou uma religião de verdade, o Jedaísmo, então há de fato uma Ordem Jedi¹ nessa galáxia. É muito cogumelo.

Há bem mais do que monges samurai do espaço e katanas de luz em Star Wars do que sonha sua hiperespacial filosofia, mas seja lá que mágica foi responsável por transformar os Jedi em mitologia pop, essa coisa já não faz parte da cultura atual. Ainda que fosse possível recriar o espírito dos cinemas passados, o ecossistema do qual os Jedi precisam para sobreviver não existe mais. 

Star Wars é um fenômeno cultural trazido até a data atual pelos moleques que saíram do cinema na década de 1980, e um breve censo em eventos, páginas, artigos e outras mídias em que a franquia respira revela um forte e nauseante cheiro de cueca raspada, então quando os meninos abandonarem a nave do The Force is Female, coisa que já estão fazendo, assistiremos ao fim da galáxia muito, muito distante. Será devorada pelo buraco negro das obras inesquecíveis já esquecidas e das lendas imortais que já morreram.

E já que o nostálgico assunto é a mágica que já se foi, é oportuno lembrar de Frank Oz, o mago dos fantoches que deu vida ao Yoda original, aquele que treinou Luke em Dagobah sem precisar de CGI. Oz é criador do Muppets Show, que imortalizou os impagáveis Caco Sapo e Porca Piggy. A dupla sabidamente tinha um affair, mas há coisas sobre a natureza da Força que somente os Jedi mais velhos conhecem. 

"Eu sei que há coisas sobre a Força que eles não estão me contando" - Anakin Skywalker

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