Eriel e as Princesas

 

Focar no race swap da Pequena Sereia (2023) é falhar em reconhecer o esforço que a Disney fez para desconstruir Ariel, reescrevendo a história e o personagem para adaptá-los aos anseios das audiências modernas. O live action¹ com Halle Bailey é, devemos reconhecer, uma produção full-desconstruída completa, com direito a princesa feminista² que não precisa de príncipe para nada, crítica ao padrão de beleza europressor do qual princesas palmiteiras são vítimas, e outras engenharias sociais diversas projetadas para promover diversidade, equidade e inclusividade. 

Desconstrução de princesas já está virando lugar comum, então o que está faltando nas histórias da Disney são narrativas para desconstruir os príncipes. Pensando nesse problema acabei criando o conto de Eriel, um príncipe moderno e empoderado. Na história, Eriel é um sereio desconstruído que não precisa de mulher para nada, e decidiu que nunca vai casar porque casamento é uma instituição patriarcal obsoleta projetada para reforçar papéis de gênero e oprimir as classes oprimidas.

Como membro da realeza, nosso heroico princeso têm patrimônio machista e renda misógina, o tipo de situação financeira opressora delícia que só poderia ser obtida explorando a classe trabalhadora e ganhando mais do que mulheres para fazer o mesmo que elas. Por ser um hetero top cisheteroeuronormativo, Eriel é visto como uma criatura do mal. Fás centido, pois o princeso mal entra no Tinder e já aparece uma fila desesperadora de sereias desesperadas para colocar a mão no seu piu-piu. Ao perceber o aroma que emana daquele mar de sereias se debatendo no seu mar, Eriel conclui que há somente três coisas que cheiram a bacalhau: a segunda é fácil de adivinhar, e a terceira não vou revelar pois esse é um conto infantil para crianças. 

Mesmo sendo um sereio de alto valor com toneladas de bacalhau à disposição, o princeso é uma criatura incompreendida. É um romântico, na realidade, mas foi vítima de um feitiço lançado por uma bruxa má. Eriel está condenado a namorar com top models de até 25 anos, idade em que o romance acaba e ele é obrigado a trocá-las por outra mais jovem. 

O pequeno sereio poderia quebrar essa trágica maldição casando com uma humana de mais de 25, mas não vai fazer isso pois é um princeso moderno que não é obrigado a nada. Esse negócio de happy ever after em que o príncipe casa com a princesa e depois vive feliz para sempre é uma fantasia Hollywodiana patriarcal machista, uma relação escravizante de posse que existia nas fábulas de antigamente. Eriel já está curado do seu machismo, portanto é a favor do políamor fluid, modalidade multisuruba shared.

Desconfio que meu conto do princeso moderno é muito moderno para virar live action da Disney, mas tenho esperança que possa virar série no Netflix ou Amazon Prime, até porque essa é uma fábula sobre esperança. Ao se aproximar dos 25, as sereias têm esperança de que na vez delas vai ser diferente, porque esperança é sempre a última que morre. No fim ela morre, mas é a última.



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