Campari Pill

 

Ameaçar mulher com processo ou bala¹ como fez Thiago Schutz, o Calvo do Campari, é o típico erro insanável, daqueles que se tornam mais inexplicáveis cada vez que você tenta explicá-los. Certas coisas não têm conserto, mas como já dizia o velho deitado, se a vida te dá um Campari, você faz uma camparonada, portanto há várias lições que podemos extrair desse etílico episódio.

A primeira e mais importante é entender o quanto é importante não ser pato. Se você um dia sentir aquela vontade irresistível de ser pato fazendo prova por escrito contra si mesmo de que você é pato, resista. Não sei por que as coisas são assim, só sei que são assim, então não adianta reclamar comigo ou tentar me passar o mansplaining. Não faço as regras, sou só o boy do recado.

O fato é que odeio odiar coisas, mas se há algo que eu particularmente odeio é o espírito de abutre da cultura atual. Schutz virou meme padrão Globo de viralização, e há uma turba de carniceiros ridicularizando e demonizando tudo que ele já fez e disse, já que nada é mais fácil do que chutar cavalo morto para catar like. Quando o equino já faleceu, vale até acusar de incel alguém que já foi casado duas vezes, pois ninguém vai se sentir motivado a alertar os patos de que eles são patos demais para entender o quanto são patos enquanto chafurdam na carniça em decomposição  para sinalizar virtude e se achar o cavaleiro branco defensor das frascas e comprimidas. 

Isso nos leva à segunda lição: os mesmos abutres que insistem que é machismo e misoginia a ideia de que homens têm seu valor mensurado por sua frequência sexual são os primeiros a tentar diminuir homens com a insinuação de que seu valor é mensurado por meio da sua frequência sexual. Esse tipo de bullying é bastante efetivo para desestabilizar psicologicamente um indivíduo, especialmente o com baixa ou nenhuma frequência sexual, o que nos leva à nossa terceira lição.

Homens são considerados tóxicos por não demonstrarem fragilidade, mas a verdade é que ninguém está realmente interessado nas suas fragilidades se você é homem. Precisamente por essa razão, Schutz responde processo por ameaça e por violência psicológica contra mulher, tipo penal que não existe contra homens pois a sociedade não entende que estados mentais masculinos tenham qualquer relevância para o bem coletivo. Para dizer a verdade, se Schutz se vestisse de mulher para ridicularizar a humorista que o ridicularizou fantasiando-se de homem, seria acusado de misoginia e violência de gênero contra mulheres na Internet, sem prejuízo da acusação de violência psicológica. 

Se você for homem, entretanto, não há quantidade de bullying online ou off-line do qual possa ser alvo que faça com que a lei entenda que você foi vítima de violência psicológica, independente da intensidade do trauma produzido. Para todos os efeitos, você pode enfiar uma bala na cabeça agora mesmo em razão de trauma psicológico severo produzido por bullying online, e o máximo que vai conseguir de empatia a seu favor é uma acusação de que a culpa pelo que ocorreu é da sua doença congênita, a tal de masculinidade. Se tivesse cumprido seu desconstruído dever social de ser menos homem, isso jamais teria acontecido.

Eu poderia prosseguir, mas não posso deixar de mencionar o episódio que transformou Thiago em meme. De acordo com o que o próprio Thiago Schutz² já observou, a única razão para entendermos como ridícula a história do Campari é porque ele é homem. Fosse uma mulher tomando seu Campari e dizendo não à cerveja de Schutz, ninguém teria muito problema com isso. Pelo contrário: Schutz seria o errado da história, pois mulheres não são obrigadas a nada. Não há lei que obrigue mulher a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa para agradar macho só porque o escroto decidiu que quer ser agradado.

Inverter os sexos para analisar situações é uma estratégia subutilizada e subvalorizada, mas se você quiser enxergar mágicas acontecendo pode utilizá-la para verificar como soaria qualquer discurso de Thiago no Youtube. Mágico ou não, não há nada que esse indivíduo esteja falando por aí que eu considere muito útil, embora várias coisas que diz não são o que eu classificaria como muito inútil. Com um pouco de boa vontade podemos seguramente entender que o coaching de macho alfafa e as dicas emburrecimento pessoal de Schutz transitam entre o pouco original e o muita groselha. 

Passa a régua, média cinco, rodou porque é pato e não aprendeu a primeira e mais importante lição que um pato deve aprender: ao sentir aquela vontade irresistível de ser pato, resista, cué cué? 


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