P00lt@, Peeraña e Gaboond@

 


Há muito já passou a época de cancelar a ideia de que palavras como p00lt@, peeraña e gaboond@¹ são ofensas. Aliás, quando mulheres aceitam tais coisas como insultos, estão na realidade reproduzindo atitudes machistas e exibindo o que chamamos de misoginia introjetada. A insistência em entender tom pejorativo nesses vocábulos apenas reforça preconceitos patriarcais historicamente arraigados, o que constitui obstáculo na trajetória de emancipação feminina e na liberação sexual plena da mulher na sociedade.

Para ilustrar meu ponto, vou contar um conto. Trata-se de uma história de amor verídica que ocorreu comigo há muitos anos. Com fim de garantir o sigilo da menina que protagonizou a cena comigo, não usarei seu nome verdadeiro, e irei chamá-la aqui apenas de Dzjia, Valdisneia Dzjia. Val, para os íntimos.

Val, além de namoradinha de um amigo meu, era uma serial cheater. Já havia chifrado meu amigo com a maioria dos outros amigos da turma e não dava sinais de que aquele rodo tinha freio. Dzjia era uma menina querida, simpática e bastante acessível, razão pela qual era ultrahyperubermegablaster popular entre os rapazes. No meu grupo de amigos, o assunto da hora era a Val.

Meninos adoram mulheres acessíveis, então assim que enxergam uma, a primeira coisa que fazem é pegar uma senha e entrar na fila, e é óbvio que foi exatamente o que eu fiz. Maldosos dirão que sou mau-caráter por trair meu amigo com sua namorada, mas eu não sou desse tipo de rapaz que você está pensando. Só fui saber que a Val era pop depois que seu namoro terminou, então como ela estava solteira, acabamos ficando em uma festa.

Não transamos naquela noite, mas como eu era a única pessoa que conhecia que não tinha transado com a Val ainda, voltei para casa eufórico. Meu bilhete havia sido premiado, e a bênção de Frida, enfim, iria ungir meu cajado em breve. Ao pensar honestamente sobre minha euforia, entretanto, concluí que havia me apaixonado pela Val. Crushei virulentamente na menina e comecei a me enxergar namorando com a Val, casando com a Val, pagando boletos para a Val e tendo vários Valdisneizinhos com a Val. 

Decidi então falar sobre a minha intenção de namorar Dzjia com um de meus amigos, que como todos os meus outros amigos, já tinha transado com ela. Assim que toquei no assunto, ele me fulminou com um olhar sério de desaprovação e disse que tinha uma péssima notícia para mim: Val Dzjia não é mulher pra namorar. Achei o comentário, além de machista, bastante grosseiro. Como assim Val Dzjia não é mulher para namorar? 

Revoltado com aquele discurso cisheteronormativo patriarcal misógino com fedor de privilégio branco, fui embora decidido a provar que Val Dzjia era mulher para namorar sim! Liguei para a Val assim que pude e já levei um pé na bunda no ato. O chão se abriu sob meus pés. Em prantos, vi meu mundo desmoronar. Pensei nos planos que tinha para o futuro, nos boletos, nos Valdisneizinhos ranhentos correndo pela casa. Tudo havia virado pó. O trauma foi tão severo que décadas após esse incidente ainda me olho no espelho e penso: pato! Fui o único da galera que não comeu a Valdisneia. 

A verdade é que eu era um menino bobinho, de coração puro, livre de preconceitos e incapaz de enxergar maldade nas mulheres. Apesar da decepção, da dor e da vergonha, nunca guardei mágoa da Val. Valdisneia não me deu buceta, não me deu romance, mas me deu algo muito mais precioso: sabedoria. Depois desse episódio, toda vez que via uma Val Dzjia, eu sabia exatamente o que fazer. Continuo um menino de coração puro, livre de preconceitos e incapaz de enxergar maldade nas mulheres, mas parei de ser bobinho.

Ninguém está livre, entretanto, de se apaixonar por uma Valdisneia. Se esse for o seu caso, tenho uma péssima notícia para você: buceta eu não tenho para dar, e romance muito menos. Não posso nem ao menos dar garantias de que esse post permanecerá no ar. De graça, para ser sincero, só o que eu tenho para dar é textão. Laikô? Se sim, curte que é iogurte, comenta que é de menta e compartilha que dá pilha.

Tenham todos uma boa semana. 


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