It's a Trap!

 

A discussão sobre mulheres trans em espaços femininos como banheiros, presídios e competições esportivas é em grande parte suportada hoje pela presunção de que mulheres trans são mulheres. Sendo o caso, negar a mulheres direito de acesso automático a espaços femininos seria não só um contrassenso como ato de transfobia, sem prejuízo das acusações de misoginia, homofobia, bifobia, panfobia, racismo, capacitismo, classismo, sexismo, monossexismo, heterossexismo, antissemitismo, etnocentrismo e mais uma lista de preconceitos tão monumental que quando eu acabar você vai estar plenamente convencido de que louro é canário, pônei, borboleta ou qualquer outra coisa que ele queira papagaiar. 

Mas afinal, mulheres trans são ou não são mulheres? Bem, como diria o almirante Ackbar: it's a trap! Mulher trans, como toda mulher, não é obrigada a nada, portanto pode ser o que quiser, seja por declaração, homologação, lacração ou graça de Frida. Isso não muda muita coisa, se é que alguma coisa muda, pois tal coisa é, em última análise, não determinante para fins de categorização de indivíduos de um mesmo tipo. 

Em presídios, por exemplo, separamos pessoas por grau de instrução e periculosidade. Nos esportes temos um sem número de divisões, como profissional e amador, infantil, juvenil, adulto, sênior, pessoas com deficiência, categorias por peso, etc. Ser ou não ser qualquer coisa não garante a ninguém o direito de estar livre de ser agrupado em qualquer categoria existente ou que venha a ser criada com fim de adequar a norma à realidade de fato. 

Se homem e mulher são categorias heterossexistas fabricadas pelo patriarcado capitalista branco cisheteroeuronormativo, como argumentam os queer, há zero razões para não darmos um fim às obsoletas categorias de feminino e masculino para investir em categorias mais inclusivas e politicamente corretas, como pessoas com útero e sem útero, resguardado o direito da pessoa histerectomizada de participar da categoria de pessoas com útero. Queers dirão que estou trapaçeando, e que o critério uterino nos esportes é arbitrário, mas seria mesmo arbitrário criar categorias com útero e sem útero para alocar mulheres trans? 

Outra vez vou ter que citar o audaz almirante rebelde: It's a trap! Queers não podem usar arbitrariedade para argumentar qualquer coisa, pois esse grupo argumenta que todas as categorias são arbitrárias e socialmente construídas. Se são, o que importa é não a arbitrariedade da norma, mas sim sua capacidade socioconstrutiva institucional estruturante de restaurar o equilíbrio da Força e garantir a paz na galáxia. 

A festa da uterinocracia dura ao menos até que a Disney lance uma nova  trilogia padrão Woke Awakens para dividir os fãs e inundar o streaming com mais séries caça-níqueis descartáveis, como Transmandalorian e as Aventuras de BiBaby Yoda, Obi-Fluid Kenobi, Star Wars: Ewokes, Histórias do Lado Não-Binário da Força, The Pink Batch, O Livro de Beeba Fett e outras encrencas que nem o ativista woke vai assistir porque está ocupado demais no Twitter acusando de alguma fobia os que também não estão assistindo. The Force is transfemale, e quem disser que não é transfóbico.

Há um sem número de maneiras não transfóbicas de organizar o mundo que não envolvem a aplicação do princípio juridicamente nulo de que tudo que é possível é automaticamente direito inalienável, porque se não for alguém vai gritar opressão até que seja. Se organizar direitinho, ninguém briga e todo mundo se dá bem, o que mostra mais uma vez que focar na problemática é sempre menos produtivo do que priorizar a solucionática.

Por falar em solucionática, banheiros unissex já existem por aí há muito tempo. Eles solucionam em definitivo e sem margem para discussão a discussão sobre mulheres trans em banheiros femininos, além de resolver um drama masculino milenar, que é o de saber o que mulheres tanto conversam no banheiro. Sendo assim, por que a agenda transwoke não é pelo banheiro unissex - que inclui todos os gêneros existentes e a serem inventados - ao invés de insistir no acesso da mulher trans ao banheiro das mulheres, uma solução binária, heterossexista e ultrapassada?

Ora, o problema com o banheiro unissex é o mesmo com a categoria por útero nos esportes: ele resolve o problema. O objetivo de todo ativismo woke, entretanto, é fabricar problemas, não solucioná-los. Cada problema que você fabrica, seja por declaração, homologação, lacração ou graça de Frida é o instrumento usado para justificar mais ativismo, que por sua vez servirá para fabricar mais problemas, que por sua vez será usado para justificar mais ativismo. O que será  que o almirante pensa sobre isso? 

Hummm... it's a trap!

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