Wokesawa

 

O fenômeno do momento parece ser a discussão sobre se lacrou ou não lacrou da cinematografia Woke Hollywoodiana, que ficou em evidência com o filme Prey (2022), última sequência de Predador (1987). Discussões sobre se é ou não é são mais antigas que a cabeleira do Zezé, então é claro que tudo pode ser, não ser, ou nem ser, nem não ser. No caso de Prey, entretanto, está claro que ficou subentendido que só pode ser uma dessas três opções.

Toda essa confusão é sinal claro de que a narrativa woke foi normalizada de tal forma na cultura que em breve personagens nos filmes estarão falando coisas como "The Future is Black Transfemale" e o pessoal vai achar que apontar lacração aí é paranoia, nada mais do que mimimi reverso motivado por racismo e transfobia. Prey é um filme interessante, daqueles capazes de surpreender indivíduos dispostos a assisti-lo despojados de qualquer expectativa, mas a verdade é que Naru, a protagonista, não é nenhuma Sarah Connor comanche, e a produção é com certeza uma empreitada Woke clássica.

Mulheres no Ocidente parecem perfeitamente confortáveis com o patriarcado, especialmente quando estoura um conflito militar de larga escala ou chega a conta do restaurante, mas, por alguma razão misteriosa que somente Hollywood entende, nos filmes as meninas estão sempre desconfortáveis com seus papéis de gênero. Naru não é diferente, e foi propagandeada antes do lançamento do filme como uma garota questionadora disposta a desconstruir estereótipos socioculturais nocivos e opressores com fim de se tornar uma caçadora poderosa que não precisa de macho pra nada. 

A informação é liberada em conjunto com trailers bomba para que homens desconfiados de que o filme vai ser um fiasco cinematográfico possam ser acusados de machistas e misóginos que têm medo de protagonistas mulheres fortes. Aqui já temos evidência suficiente de que se trata de mais um pacote lacro-ideológico arteiro, mas há mais, bem mais.

Homens coadjuvantes existem na trama para serem superados por Naru. Embora a aspirante a caçadora seja superior a qualquer macho em qualquer coisa, é subestimada por eles apenas por ser mulher. Como o filme reproduz o script woke tradicional, esses são machistas do bem por serem nativos, pois quando há um grupo de vilões na cinematografia woke, eles são sempre brancos de matriz eurocêntrica. 

É o caso no filme, em que os vilões são caçadores imperialistas franceses, retratados como supremacistas brancos sujos, malignos e brutalizados, em claro contraste com a nação Comanche, um povo limpinho, cheiroso e virtuoso que vive em harmonia com a natureza e está tentando se curar da sua masculinidade tóxica. Totalmente woke também a decisão de honrar a cultura Comanche gravando o filme em inglês com atores indígenas, mas dublando o filme no idioma comanche para que todos tenhamos a opção de assistir nessa língua caso alguém sinta a necessidade de se sentir virtuoso. O correto, se é para honrar a nação Comanche, seria fazer o contrário: gravar em comanche e dublar a opção em inglês. Isso prova que sinalizar virtude é preciso, mas sem exageros. Bastante woke.

O filme é regido pela recorrente narrativa woke da substituição: encerrar o ciclo dos machos, que são removidos da sua posição por obsolescência com fim ceder seu lugar a um ser superior, mais virtuoso, mais sábio e mais capaz: a mulher. Quem mais seria? Por falar em ser superior, mais virtuoso, sábio e capaz, o Jedi Yoda passa a mão na cabeça quando está pensativo. George Lucas inspirou esse comportamento em um  cacoete de um dos samurais do filme Os Sete Samurais (1954). Inexiste na história do cinema obra que tenha criado tantas referências e inspirado tantas cenas quanto o mítico filme de Kurosawa. 

Há sete soldados no filme Predador, de 1987. Han Solo, Chewbacca, Luke, Leia, Obi-Wan, R2-D2 e C-3PO são sete. Naru, é claro, vale por sete. Para mais referências pepecudas e empoleiradas, siga esta página.

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