Pondé Platinho
O último monstrinho com quem interagi me disse que não estava entendendo nada da minha página, e me perguntou se ele era burro. É um monstrinho de sorte, pois fez a pergunta certa, no lugar certo, para a pessoa certa: sim você é burro. Nesse momento, me senti um professor, pois essa é sua missão: fazer com que o indivíduo termine a aula mais burro do que entrou. O burrinho não sabia que era burro, então agora que sabe, vários dilemas complexos vão surgir na sua mente, que vai entrar em estado de dissonância cognitiva fazendo com que se sinta mais burro do que era antes. Se a lição funcionou como deveria, o burrinho vai tentar resolver sua dissonância cognitiva atacando a raiz do problema: sua burrice. Caso consiga, agora sim, ficou mais sábio, caso contrário, nada mais posso fazer por ele.
Agora me apareceu um outro tipo de monstrinho, que elaborou uma teoria no clássico modelo hipotético-dedutivo para tentar inferir qual é a minha metodologia, tentou concluir com base em sua teoria qual é a minha agenda final, e me perguntou o que acho da sua teoria. O que acho dessa teoria é que a única diferença entre o primeiro e o segundo monstrinho é o grau de sofisticação: enquanto o primeiro está no pré-primário, segundo está elaborando sua tese de mestrado. Isso confirma o que já sabia, e enumera um dos meus muitos problemas, que é o de como me comunicar de maneira produtiva com uma audiência absolutamente heterogênea, com diferentes necessidades e capacidades.
O que detonou a dissonância cognitiva do segundo monstrinho foi meu texto do Silas Malafaia, que produziu o insight de que sua teoria anterior sobre mim estava errada. Eu não sou exatamente o que ele pensava que eu era. Esse insight é bastante frequente, então já estou acostumado. A reação mais comum é o monstrinho perder o controle das funções fisiológicas, fugir em pânico com o fifi na mão, e em seguida me bloquear. Mais um para a minha coleção. A Internet é realmente um lugar perigoso.
Como previsto, no momento em que o indivíduo entende que não está entendendo, elabora uma teoria para resolver seu problema, e vai à campo coletar dados com fim de curar aquilo que está incomodando. Foi exatamente o que o primeiro monstrinho fez. Ele não entendeu meus textos, elaborou uma teoria sobre suas capacidades intelectuais, foi a campo em busca de respostas, e encontrou a solução dos seus problemas: mais problemas para resolver que ele não tinha antes de elaborar sua teoria. Todos, do pré-primário ao pós-doutorado, estão nesse estado. Todos fazem a mesma coisa, só que com níveis de sofisticação diferentes.
A previsão da teoria do segundo monstrinho é de que minha agenda final é mostrar o quão supérfluo é o conceito de se dividir socialmente, que em termos técnicos podemos traduzir como endereçar o problema da política de identidade. Isso está incorreto, então a teoria está falseada. Quando eu falo de política de identidade, estou no meu nível pop. Política de identidade não é uma doença, é um sintoma de algo maior e mais complexo, que em última análise terá que endereçar, para ser solucionado, a questão do conhecimento, como produzi-lo e como transmitir-lo aos agentes dentro do tecido social. É lá que ele irá gerar os necessários e desejáveis efeitos no campo político, ideológico, ético, econômico, cultural, etc.
Transmitir conhecimento é produzir dissonância cognitiva, então o que temos agora são problemas a resolver que irão surgir nessa tentativa de transmissão. É o que temos no texto do Silas Malafaia e no do Maurício do vôlei. Ambos são conservadores religiosos que acreditam que orientação sexual é uma construção social, que o indivíduo escolhe ser gay ou hetero. Em outras palavras, Malafaia e Maurício são Queer e não sabem, pois é precisamente isso que Queers afirmam. Essa afirmação já foi demolida há muitas décadas, e temos um massivo corpo de evidências científicas hoje de que sexualidade não é adquirida. Malafaia e Maurício não estão interessados nessa informação, pois ela vai produzir mais dissonância cognitiva, já que entra em conflito com questões éticas, religiosas, políticas e ideológicas dos dois.
Caso corrijam seu problema, agora eles tem mais problemas, pois ao disseminar essa informação eles podem ser banidos do seu grupo, perder amigos, relações profissionais, alianças políticas, então agora estamos falando sobre política de identidade. Tanto conservadores quanto progressistas são hoje identitários e estão jogando o jogo da política de identidade. Ambos os pólos são Queer, ambos são pseudocientíficos e vão aceitar somente as verdades científicas que não entram em conflito com sua identidade político-ideológica.
Não há nada de novidade no identitarismo, é um fenômeno milenar, mas passou a se tornar especialmente relevante na Idade Moderna. Uma das suas muitas causas é o fato de que nesse período tivemos um grande volume de conhecimento e rápida disseminação, algo que causa tumulto, pois a sociedade é incapaz de se transformar na mesma velocidade em que o conhecimento é produzido. Enfim, os dilemas filosóficos e sociais do homem contemporâneo são os mesmos do europeu da Idade Moderna, só troca a marcha. Galileu tinha um telescópio, que usou para virar um continente do avesso, nós temos smartphones com acesso à Internet, onde encontramos gratuitamente o repositório de informação mais massivo jamais produzido pelo homem, que os pirralhos usam para se masturbar com pornografia e xingar mulher nas redes sociais.
Nem todos, é claro. O Platinho poderia estar no X-Videos tocando uma, mas não, está no Youtube tentando enfiar alguma substância na cabeça dos pirralhos. Em troca o que ele ganha é dedo no olho e chute no saco de todas as tribos possíveis e imagináveis em todos os pólos político-ideológicos. Até a Veja já fez a caveira dele. É o meu herói. Nesse video¹ que encontrei no seu canal, à exceção da metafísica da ejaculação precoce, uma área nova para mim, há pouca coisa que eu já não tenha, a não ser por esse senhor aí do lado, que eu nunca vi mais gordo.
O Pondé que eu conheço é o Pondé Pop, da turminha de outros pops, como Cortella e Karnal, mas esse careca aí é professor, e tem doutorado em Filosofia pela USP. Na entrevista o professor revela que não quer ficar na Academia, ele quer acesso às massas, o que é um problema. Para ser ouvido ele tem que aprender a se comunicar com elas, do contrário não será entendido, o que significa que as massas não irão ouvi-lo. Não mencionado por ele é o problema dos assuntos polêmicos, já que se ele escolher certos assuntos irá perder audiência e irão tirar o microfone dele. Karnal é pop pois só fala amenidades e nunca toca em nada que possa causar tumulto na sua audiência, então podemos contar como façanha de Pondé ter conseguido falar sobre MGTOW² na TV Cultura. Não fez uma análise que eu consideraria irretocável, mas dentro das limitações da sua versão pop, diria que se saiu muito bem.
Platinho mereceu essa entrevista com Pondé, que é um sinal de que o trabalho que vem fazendo está progredindo e dando resultados. Ambos estão envolvidos com o mesmo problema, que na realidade é um problema milenar: como enfiar verdura nas massas se as massas são histéricas e tem alergia à verdura? Não sei responder a essa pergunta. Ninguém sabe, então o que resta é tentar se virar com o que há disponível. No meu caso, o que tenho disponível é um nanoblog que ninguém conhece, com menos de três mil seguidores em uma rede de dejeto social. É o que tem. Pegar ou largar. Platão, Platinho, massão, massinho. Pontinho.
Platinho: Entrevista com Felipe Pondé
Pondé falando sobre mgtow na TV Cultura