Ju e o Careca

 

Eu sempre fico recebendo a mesma pergunta de pessoas curiosas para saber de onde é que eu tiro tudo isso. A resposta sincera é: não sei. Por sincera, entenda-se a resposta que errada não está, mas também não está certa. Para entender melhor meu dilema, talvez você devesse ler o Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir. 

Não é um livro sobre feminismo, mas um trabalho filosófico onde ela investiga o que é ser mulher. A obra é datada, mas na empreitada ela usa absolutamente tudo de relevante que estava à disposição da humanidade na época para investigar o tal de ser mulher. Aí você olha aquilo e se pergunta: como é que essa doida enfiou aquilo tudo no cerebrinho? Foi por osmose, teve uma revelação de Frida, passou um KY?

Sabe como ela fez? Sei lá. A mulher já morreu, então já era. Eu já estou no padrão de fazer totó se mijar nas calças com meus poderes telepáticos e você quer que eu comece a psicografar coisas agora? Até estou tentando psicografar uns bagulhos, pois há coisas que o Elvis deixou sem resposta, mas sem sucesso ainda. O fato é que Beauvoir não entrou para a história da filosofia nem de graça, nem por cotas. Não tinha essas modernidades modernas na época dela, então teve que se virar com o que tinha à mão, como o Jean-Paul Sartre, por exemplo. 

Podia ter catado alguma coisa melhor para amante do que um baixinho vesgo de tico mole que não conseguia publicar nada sem que ela aprovasse antes, mas era o que tinha à mão na época. Antes do Tinder, era assim que funcionava, então se está ruim pra você hoje, não reclame. Antes era pior, bem pior. Na realidade ela estava só fazendo seu trabalho, pois é trabalho do filósofo interagir com várias áreas do conhecimento com fim de dar sua filosofadinha. 

Frequentemente fico filosofando sobre o dilema da minha estatura. Será que eu posso me permitir a audácia de dizer que sou um filósofo? Todo filósofo faz isso, então acho que é um ponto de partida, e começar do início é sempre um bom começo. Antes de zarpar, entretanto, eu tenho que interagir com tudo que é necessário para pensar o que penso ser necessário. Penso que isso vai levar uma vida, mas também penso que isso não é problema, pois tenho a vida inteira para pensar no assunto.

Filósofos que não fazem isso com competência são os que começam a alucinar fantasmas, como Judith Butler, por exemplo. O fato é que a Ju não entrou para a história da Filosofia de graça, pois não entrou, nem vai entrar, embora não seja café pequeno. Ela é a lacraia master da Teoria Queer, grande influência no feminismo atual, tem um PhD em Filosofia pela universidade de Yale e dá aula em Berkeley. Peludissíssima.

A importância do seu trabalho é política, pois o corpo é político (Butler, 1990). Não fosse o barulho político-ideológico de Queers hoje, acho que ninguém nem saberia quem é a Ju. Acho que até hoje ela também não entendeu o que é que viram nela, mas o cachê da palestra é bem caro, pois Ju é das peludas, mas não é jumenta. Enfim, é cotista, então como estamos na era das cotas, para entender o quadro político atual você tem que entender Butler. 

Isso  é um problema, pois você não vai entender Butler. Não só ela escreve com o indefectível estilinho pós-modernoso que pede para levar um Sokal no forévis, aquele em que fica difícil distinguir excesso de erudição de excesso de falta de noção, como ela é um pingo em volta de um oceano que estava ocorrendo em volta dela na hora que pariu seu famoso panfleto sobre gênero. 

Por panfleto, entenda-se o momento eluminado em que você tenta fazer Filosofia, pensar gênero e política, mas falha magistralmente nos três. É um mau começo. Isso é o que dá não me consultar antes de pensar bobagem, mas, como sempre, ninguém me ovo. Só me ovo depois que é tarde, mas aí já é tarde para me atirar ovo. Não posso dizer que o panfleto da Ju só serve para limpar a bunda porque ele tem papel importante no cenário atual. Ju não só é ainda atual, como vanguarda. Por essa razão, e somente essa, a Ju é fundamental.

Pior, para entender Butler você vai ter que entender Foucault, pois Foucault é um dos cabeçudos que está por trás da Butler. Enfiar esse careca pra dentro não é fácil, mas esse é o menor dos seus problemas. O problema é o que vem depois do careca: uma trolha gigantesca que só vai parar em Platão e Aristóteles, autores com quem Butler, assim como Beauvoir, também interage. Mas quem são esses dois elementos? Ora, as bolinhas. Das bolinhas não passa, nunca passou, então fique tranquilo, pois só o que Sócrates sabia era que não sabia de nada. Eu também não, então me inclua fora dessa treta.

KY era um produto que ginecologistas usavam em exames, mas como era fácil comprar em farmácias, as meninas arteiras começaram a ter ideias. Se você tinha curiosidade para saber por que há tubos de tubos de KY para vender na farmácia, agora já sabe. É tudo culpa da Ju. Depois que você enfia o careca pra dentro, o resto vai que é um doce, mas é preciso cuidado. A Ju, por exemplo, é lésbica, mas se apaixonou pelo careca. O problema é que, na hora de enfiar, enfiou errado. Esse negócio de enfiar o careca errado sempre acaba em catástrofe fantasmática e performática de proporções político-surubológicas.

Curiosidade é uma coisa curiosa, então se você tem curiosidade para saber como enfiar coisas pra dentro, já tem tudo que precisa, pois KY você encontra na farmácia. Para os que me pedem indicação de leitura, vou ter também que ser sincero: não sei psicografar ainda. Para os navegantes perdidos, sempre indico o Drive¹ do Sergio Vitor da Silva². É um repositório comunitário com diversos livros e artigos sobre feminismo e tópicos relacionados traduzidos por ele. Há muita coisa lá, tudo em português, o que facilita para os que não dominam o inglês. 

Para os que estão na mão, é o que tem à mão, então é uma mão na roda. O importante na vida é usar o que você tem, pois o que você não tem não pode ser usado, e essa é a minha filosofadinha de hoje. Modesta, mas sincera. Para ser sincero, até sinceridade expliquei o que é hoje para os que ainda não sabem. Está de bom tamanho, então é hora de passar a régua.

Há no Drive do Sergio algumas obras traduzidas por Odirlei Dias, que além de cyberfriend³ é um dos meus leitores mais assíduos. Por cyberfriend, entenda-se alguém que existe somente como entidade virtual no cyberspace, mas ainda assim é uma cybermão na roda. Odirlei é também uma fonte de escorreção e aspiração para mim, portanto me alertou que não posso usar amém, pois isso é um patriarcalismo não só inculto, como herético e opressor. Escorreguei, mas quem nunca? A forma erudita, portanto, segundo meu consultor religioso e espiritual, é hímen.

Ju X Beauvoir = Queervoir. Como é jovial observar, curioso Horácio, há mais pelos entre o clinton e o esfíncter do que sonha sua xana filosofia. Que Frida nos proteja de enfiar errado. Em nome da Deusa, da Filha e da Periquita Santa, hímen!



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