Super

 


Mas tchê, é muita notícia de hemofobia. Apareceu agora um tal de Mauricio, jogador de vôlei, dizendo que não sabe onde esse negócio de Superman¹  bissexual vai parar. Evidente que esse descalabro desinformado não tem cabimento, já que qualquer um sabe onde isso vai parar. Um Superman bissexual afirma a binariedade de gênero, portanto um SuperBi é preconceito contra não-binários. Não pega bem para um kryptoniano ter fobias e preconceitos. Superman é, ou pelo menos deveria ser, um símbolo de masculinidade, um paradigma de macho ideal, aquilo que representa o que de mais elevado pode aspirar um homem cis-hetero branco eurocêntrico pilchado com cueca por cima das calças e pintado com as cores da bandeira gringa.

Sendo Superman um modelo de perfeição, é de se esperar que qualquer tentativa de aperfeiçoá-lo vai condená-lo à degeneração. Kal-El nada mais é do que aquilo que todo macho deveria querer ser. Alguém de aço, invulnerável, poderoso, corajoso, sábio, justo, virtuoso, e que usa suas capacidades superiores não em proveito próprio, mas em benefício dos outros. É um indivíduo humilde, que permanece entre nós e vive como um de nós na figura de Clark Kent, uma máscara da qual se desfaz somente em caso de urgência e necessidade. 

Superman protege a todos igualmente, mas é mais igual com sua prenda, aquela por quem se apaixonou e o fez, pela primeira vez, sentir-se um super-homem de verdade. Quando Lois despenca de um prédio e grita por socorro, o Super é capaz de ouvir seu chamado de outro continente, cruzar o Atlântico em um risco e estar lá para salvá-la antes que chegue ao solo. Não importa onde ele esteja ou o que ele esteja fazendo, Kal-El sempre estará lá pela Lois. Estar sempre lá por sua prenda é uma caraterística tradicional da masculinidade, mais uma das muitas razões pelas quais o Superman é super.

Mas put a keep are you, tchê! Esse Superman é um gaúcho! Repuxando os causo aqui da memória, que não anda muito bem em razão da idade, lembrei que Kal-EL é um guri aqui de Uruguaina, amigo do meu pai nos tempos de piá. Gostavam de atravessar o rio Uruguai a nado para ver quem chegava antes em Libres. Meu pai sempre chegava primeiro, mas também, Kal-El é um gaúcho dos fraquinho. Superman é como a Gisele Bündchen. Não é porque a magrelinha é das fraquinhas que não pode representar o Rio Grande fora daqui e ser símbolo de charme, carisma e beleza, a übermodel que personifica com fidelidade e justiça aquilo que toda mulher deseja emular. Afinal, nada menos que isso é o que se espera de uma kryptoniana da Serra Gaúcha.

O que mais um taura gaudério poderia ser a não ser o paradigma do macho supremo? O gaúcho é o único modelo de masculinidade tradicional da galáxia, quiçá do universo, que é por natureza inclusivo. Todo mundo sabe que está cheio de gaúcho vinhado por aqui. Não me venha com conversa mole a acusações de hemofobia nessa hora. O Brasil inteiro faz piadinhas de gaúcho gay, diz que aqui está cheio de vinhado e que ninguém liga. Não liga mesmo. 

Dar a bunda é um costume antigo e tradicional do homem gaudério, coisa importada por filhinhos de papai de Pelotas, que voltavam da Europa escolados nas melhores universidades, e toda essa suruba esnobe de gringo arteiro era financiada com a fortuna da família. Verdade seja dita, nem todo gaúcho gosta de dar a bunda. Também não gosto de chimarrão, e nem por isso deixo de tomar, já que é uma tradição aqui do Rio Grande. Sim, sou um gaúcho que não gosta de tomar nem chimarrão, nem na bunda. 

Ser um xirú de aço, bravo e destemido, não são as únicas habilidades masculinas tradicionais do gaúcho. Um homem destes pagos também sabe ser sensível, gentil, delicado, um cata-florzinha de primeira linha. Talvez por isso o Brasil goste de fazer piadas de gaúcho gay. Há muita hemofobia no Brasil, e hemofobia está errado, além de ser gauderiamente incorreto. Se um ser supremo capaz de saber quantos pentelhos tem a xana de uma china só de olhar para a bunda dela, que é mais forte, ligeiro, sábio e virtuoso que você, mais bagual e macanudo que você, que é superior a você em tudo, não está fazendo alguma coisa que você está fazendo, sabe o que você faz? Para com essa frescoolra imediatamente. Agora, já. Independente do que seja, se aqui nos Pampas não se faz, você não deveria fazer, porque está errado. 

Dar a bunda é uma tradição do sul, mas por aqui está virando modinha, e até amigos próximos resolveram que agora vão estourar o ventil. Sabe onde isso vai parar? Daqui a pouco não vou poder mais falar de buceta com os amigos. Eu quero falar de xana, mas o assunto da moda agora é pinto. Sabe onde isso vai parar? Vou ter que começar a dar a bunda para ter assunto e não me sentir excluído nas rodas de mate. 

Passa a cuia, fala dos pintos e olha uns machos no celular. Já não gosto de chimarrão, não gosto de dar a bunda, mas dar like em foto de xirú pelado aí já é demais. Dá muito trabalho para socializar aqui no Rio Grande, e dar a bunda não estava bem nos meus planos, mas jurei defender até meu último suspiro o Gaudério Way of Life. Se é para o bem de todos, e a felicidade geral da minha nação - o Rio Grande - diga ao povo que acoco.

Isso nada me custa, e nada me dói, pois nada pode ferir um gaúcho, nem mesmo piadinhas hemofóbicas de gaúcho vinhado. O gaudério é leniente com tuas faltas, teus erros, tuas pequenezas e mesquinharias, pois é dever daquele que é magnânimo proteger os que são mais fracos, aqueles a quem tem poder de destruir. É missão do gaúcho ser não juiz, mas exemplo de retidão e valor, um farol que navega os aflitos, estrela guia a dar prumo ao galope nas pradarias, uma fonte de inspiração capaz de extrair de ti nada a não ser teu melhor.

Sim, o gaúcho é de aço, e nada pode feri-lo, mas se há algo que é kriptonita para o taura gaudério são acusações de que o rio-grandense é um povo arrogante. Isso nada mais é do que mais preconceito, um descalabro desinformado, praticamente uma blasfêmia. O gaúcho não se acha, o gaúcho é, então vamos nos respeitar, pois respeito é bom e o gaúcho gosta. E tenho dito, até porque o não dito fica pelo desdito. 

#ésobreisso


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