Pacto de Narciso

 


Papo de Homem é o site do homem desconstruído. Por homem desconstruído, entenda-se aquele que afirma que o conceito de homem de verdade é um fetiche patriarcal machista para em seguida definir masculinidade como ginolatria - a propalada masculinidade plural. Masculinidade plural significa obrigação de ser um ginólatra, o único tipo de homem autorizado a existir, aquele que acredita que sua única função no Cosmos é atender às expectativas femininas, idolatrar mulheres e curvar-se às suas demandas, já que não fazê-o é falhar em ser um homem de verdade. Desconstruir o homem de verdade para criar o novo homem de verdade é necessário, como podemos ver, para que ninguém note que o homem do futuro e o do passado são na realidade o mesmo indivíduo em nova roupagem.

Em seu artigo para o Papo de Ginólatra, o desconstruidíssimo João Marques, desconstrutor de masculinidades, cita o mito de Narciso¹ para acusar homens de narcisistas por adularem-se entre si apenas por terem um pênis, ao invés de fazerem o que é correto e desconstruído: adular mulheres apenas por ter uma vagina. Desconstrução masculina é um ato suicida, então invariavelmente Marques suicida assim que menciona Narciso para acusar homens de estarem envolvidos em um pacto narcísico, um pacto coletivo de idolatria da própria imagem. O problema é que Narciso não é Ulisses, não é Hércules, não é nem mesmo um Adônis, é simplesmente um mito que existe para descrever o abjeto, a antítese do que homens aspiram.

Homens não admiram sua imagem, eles fazem o contrário disso. O masculino enxerga a si como pendente de condição, algo que somente será digno quando produzir algo capaz de sobrepujar sua incompletude, transcender sua condição de homem e tornar-se algo maior. Não se nasce mulher, torna-se: falhou Beauvoir ao invocar mulheres para o desejo masculino de transcender, o desejo antinarcísico do ser para além de si, o idolatrar o vir a ser, não o que é. 

Suas sucessoras são na realidade as que fabricaram entre elas um pacto narcísico na Academia. Tenho uma vagina: financie-me, cite-me, aceite-me, valorize-me, respeite-me, propague-me, concorde-me, eternize-me, etc. É muito me na ausência de razão que justifique me.  Teóricas feministas idolatram-se em um pacto narcísico acadêmico, fazem bullying com as que se negam a participar dele e exportam para a cultura a imposição do seu pacto narcisista, que determina o dever moral de consumir o que mulheres produzem não pelo seu valor, mas porque a Narcisa produtora apaixonou-se pela própria vagina.

Encapsuladas em sua bolha narcísica, feministas entendem como heresia não serem admiradas, e invejam homens pelo que eles possuem, a única coisa que feministas não podem ter dentro da sua bolha de egolatria coletiva autossuficiente: lealdade e coragem. Lealdade é a coisa que homens dão a outros homens, a certeza de que a idolatria só virá na medida do valor do que foi produzido. Tal lealdade tem um preço, que é a possibilidade de vir a ser não o ser, mas o nada. Coragem é o que você precisa para enfrentar o nada, a perspectiva de aniquilação.

Há várias versões do mito de Narciso. Em uma delas, Eco era uma ninfa² tagarela que adorava interromper as pessoas. Condenada por Zeus a somente conseguir falar as últimas palavras ditas por outros, Eco apaixona-se por Narciso, mas é rejeitada. Incapaz de suportar a dor da rejeição, isola-se na floresta para sempre. Nêmesis, a deusa da vingança, decide vingar a dor da ninfa atraindo Narciso para um lago, onde apaixona-se perdidamente pelo que vê na água. Ao perceber que o objeto do seu amor não era nada além da sua própria imagem, e que seu amor nunca poderia ser consumado, Narciso cai em desespero e perde o desejo de viver.

Feministas são Eco em um pacto de Narciso, eco do que foi dito por outros homens, eco do que ecoam entre si, condenadas a jamais poder pronunciar as próprias palavras, já que a única coisa que conseguem fazer é ecoar na superfície da água, apaixonando-se equivocadamente pela única coisa que tornará seu amor impossível de ser consumado: Eco, Eco, Eco...

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