Death to the Male Witch

 

Death to the male witch é a fogueira em que querem queimar o Maurício do vôlei por dizer não saber onde vamos parar com um Superman bi. Carreira provavelmente destruída, sem direito a presunção de inocência, ampla defesa ou benefício da dúvida razoável, sem direito nem mesmo a perdão ou redenção. A pena se estende às pessoas que dependem dele, que irão sofrer também. Caçadores de bruxas não desejam perdão, então jamais peça perdão para esse tipo de crápula covarde escondido em uma turba de linchadores, que nada tem a temer caso esteja enganado em seu julgamento. 

Como de costume, o que a turba quer é uma confissão que confirme suas acusações, confirmação na realidade inútil, já que ainda que você esteja sinceramente arrependido, ainda que seja inocentado, será queimado. Fazer justiça não é o objetivo, mas sim, queimar algo pelo simples prazer de ver algo se contorcer no fogo. Salem é aqui, então alegre-se, pois você é o próximo. Vamos todos fritar a rowskinha juntinhos.

Alan Turing era um fucking master blaster cientista da computação, lógico, criptoanalista, filósofo e biólogo teórico, que foi levado ao suicídio em razão da sua castração química realizada por uma sociedade estrutural e institucionalmente homofóbica que não tolerava sua sexualidade. Sem ele não sei onde teríamos parado, pois o resultado da WW2 talvez tivesse sido outro. Sem Turing, talvez hoje estivéssemos louvando ao Führer e à superioridade da raça ariana. Se fizessem um filme onde Turing é heterossexual, pergunto: onde vamos parar? 

Há um sentido estético e um moral para essa indagação, e o estético é com certeza protegido pela Constituição. Fosse Turing um personagem de ficção, alterar sua sexualidade não teria significância moral, embora eu ache isso artisticamente de mau gosto, mas dado que ele é um ser de carne e osso fundamental para nossa história, apagar a dele é imoral. 

Reza a Carta: não há crime sem lei anterior que o defina. Homofobia não é objetivamente definida nem na lei, nem fora dela, então o que temos com qualquer tentativa de criminalizar a homofobia é uma abominação jurídica. Um tipo penal não está definido se é definido como indefinição, posto que isso invariavelmente produzirá caos jurídica e social. A verdadeira razão, na realidade, para que homofobia não seja definida, é que ao fazê-lo propriamente não poderemos criminalizá-la. Se o fóbico não faz apologia ao crime contra o objeto da sua fobia, não quer castrá-lo, não quer incitar sua morte ou a violação de seus direitos, e se não age de forma discriminatória motivado por sua fobia, nada nem mesmo de imoral existe ali.

Fobias são condições tratáveis. O fóbico é uma vítima, vítima da sua época, da sua cultura e de seu contexto social. Possivelmente nenhum dos que estão atacando Mauricio e desejam acabar com sua vida sem chance de defesa ou redenção não desejariam castrar Turing se fossem nascidos naquela época. Até mesmo homossexuais do seu tempo teriam o desejo de fazê-lo, apontando em pânico o dedo castrador de dentro dos seus armários. Homofobia atinge não só gays, mas heteros, já que medo de ser identificado como homo fabrica sua própria Salem inquisitória instalando medo e paranoia acusatória generalizada, o que produz um ambiente tóxico onde ninguém está seguro. 

O problema é que reconhecer fobia homo como condição adquirida tratável é que isso remove de mim a capacidade moral de castrar culturalmente o cérebro dos outros e queimá-los em uma fogueira para satisfazer meu sádico e abjeto desejo de exercer poder sobre pessoas indefesas. Nada como saborear o cheirinho artificial de virtude da pele queimada por meu dedo em riste. Ódio do bem, dizem, o que é impossível, já que existe somente um ódio: o do mal. Se ódio deve ser criminalizado, então os dedos em riste deveriam ser os primeiros a queimar na pira da purificação moral.

Fobias não são ódio, embora ambos possam existir juntos, mas se começarmos a criminalizar fobias, aí eu não sei onde vamos parar. Feministas são homemfóbicas, e isso não aumenta o número de homicídios de homens, portanto não entendo que a pena por ser lacraia peluda deva ser maior do que ser zoada por mim, algo que já é suficientemente desproporcional, desumano, sádico, cruel e delícia. Pensando bem, esse negócio de criminalizar fobias que eu não gosto até que não é uma má ideia. 

O problema é que não posso suspender justiça nem mesmo para meus inimigos. Se não defendemos justiça para nossos inimigos, então não a defendemos, portanto sei exatamente onde iremos parar: em Salem. Já estamos em Salem, onde todos são o próximo na fila do churrasco. Eu vi essa fogueira chegando há muitos anos, mas como sou um analista tarimbado e experiente, só apareço após o fato para prever o passado.

Na realidade, se você acredita que, no contexto cultural homofóbico atual, homofobia está causando morte de homossexuais em qualquer número significativo, você é um fóbico, um preconceituoso. Você é uma vítima do seu contexto social, então sua condição é tratável com informação. Não só estatísticas de mortes de homossexuais são fraudes¹ escancaradas e reiteradas, como a própria ideia de que alguém morre hoje por ser homossexual merece ser seriamente investigada. É uma empreitada espinhosa, já que você será trucidado pelos dedos em riste ao fazê-lo. 

Mas o que temem tais dedinhos? Que anéis teriam a perder? Algo cheira mal em Salem, um odor fétido de carne humana em decomposição. Sinto cheiro de dedinho em riste queimado no futuro. Como disse, sou um analista tarimbado, então depois que o churrasco começar eu apareço para fazer a previsão. Análise completa, com fotos de satélite, gráficos, números, séries históricas, projeções, etc. Até lá, vai pela sombra, meu Witcher.

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