O Vigilante


As manas estão histéricas com a tomada do poder pelo Talibã¹ no Afeganistão, então estou tendo flashbacks e outras visões místicas do passado. Isso estando totalmente sóbrio, sem a ajuda de psicotrópicos. Não que eu precise desses bagulhos. Prefiro vinho, mas nem vinho eu tomei hoje. No início da década passada, quando terrorismo islâmico ainda era assunto, as manas estavam a todo vapor usando islâmicas como marketing feminista contra os perigos do patriarcado. Apropriação cultural é o nome, mas na época podia porque esse mimimi não tinha sido inventado ainda. É ok solidarizar-se com mulheres que tem o rosto queimado com ácido por querer trabalhar, meninas levando tiro por querer estudar, mas quando as manas começaram com o mimimi de que a mulher ocidental também é oprimida porque tem que sobreviver a perigosas cantadas de macho feio a coisa começou a ficar meio estranha. Um cheiro podre de bacalhau estragado empesteava o ar, e o fedor de sovaco peludo com desodorante vencido começou a invadir todos os espaços. 

Gringos então começaram a discutir entre eles nos EUA qual seria exatamente a utilidade desse tal de feminismo no primeiro mundo hoje, falar sobre a ridícula e crescente vitimização das feministas ocidentais, sua abjeta pretensão de comparar sua narrativa de ocidental rica e cheia de privilégios à da mulher islâmica, duplos critérios hipócritas de gênero, a insistência em discursos sexistas de ódio a homens, etc.  Para fins de registro histérico, digo, histórico, que fique observado que dessa treta emergiu boa parte do que se entende hoje como androsfera, uma cybercultura inclusiva onde homens de todos os pólos políticos, crenças, classes sociais, agendas, times de futebol, orientações e preferências sexuais se reuniram para concluir em uníssono: feminismo é mimimi. Nada como descontentamento com feminismo para unir homens em torno de algo sadio, ordeiro, construtivo, livre de egocentrismos, tribalismos, ressentimentos, brigas e animosidades. O resto da história os mgteens já conhecem.

Acho que só hoje fui entender essa fixação das manas com as islâmicas. Contemplar o drama da mulher em regimes teocráticos fundamentalistas produz um choque de realidade e uma dose cavalar de dissonância cognitiva. Testemunhar o Talibã tocando o horror pela telinha do iPhone Plãs é testemunhar a profunda inutilidade do movimento feminista, é ter que encarar o fato de que nada no entorno da mulher ocidental foi conquistado pelas guerreiras de Frida, mas por filosofias que pregavam liberdades individuais, igualdade perante a lei e império do Estado Democrático de Direito teorizadas por homens, sistemas econômicos teorizados e implementados por homens, revoluções tecnológicas fabricadas por homens, tudo construído com custo de vidas masculinas, já que nada desse mundo eurocêntrico cisheteronormativo cheirosinho foi obtido de forma asséptica e limpinha. 

Muito sangue foi derramado para que ocidentais pudessem hoje gozar de privilégios como o da liberdade de expressão, digo, privilégio de calar a boca para não ser cancelado e trucidado pela nazipatrulha. Não vamos esquecer de mencionar também o desejo sincero do homem ocidental de assegurar à mulher participação na festa da democracia, igualdade e liberdade para todos, todas e todes. Nunca na história desse planeta alguém tinha visto coisa igual, companheiros. 

Mas onde feminismo entra nessa história? Em lugar algum. Conforme observado por Simone de Beauvoir, sufragistas fizeram um showzinho midiático para inglês ver, e sua agitação foi meramente simbólica. Elas simplesmente passaram a sacolinha e recolheram as delícias que o homem ocidental, alegre e solícito, provavelmente já tinha a intenção de oferecer. Nada mudou desde então, e essa sacolinha já passou tantas vezes que a conta do mercadinho já está no vermelho há décadas. E o que feministas andam fazendo enquanto passam a sacolinha? Enchendo o saco, reclamando que homem é escroto, que macho não acha o clitóris, que o patriarcado é opressor, que homens são tóxicos, masculinidade é uma doença, etc, etc, etc. 

Em outras palavras, o que a feminista no Ocidente faz, além de encher o saco, é defecar no Batman. Mas por onde andaria o Batman? Bem, de acordo com o Bidê, a coisa não anda muito bem em Gotham. A grana tá curta por causa do Covid, então ele mandou cancelar a batcaverna, batmóvel e batbagulhos do Homem-Morcego no Afeganistão. As meninas não precisam de homem pra nada mesmo hoje em dia, já que são empoderadas, independentes e com opinião formada sobre tudo, então é uma boa hora para economizar uns trocados.

“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” — Simone de Beauvoir.

Mas quem seria esse vigilante de quem Beauvoir está falando? Ora, só pode ser o Batman. Quem mais você chamaria na hora em que os bárbaros invadem a cidade e o terror se instala em Gotham City? A Beyoncé?


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