Ultrapai

 

Ser mãe feminista não é somente espalhar memes fraudulentos de pensão de 200 reais online para conseguir uma desculpa para reclamar de abandono financeiro, digo, abandono emocional do papai, que fez o desfavor de não nascer o Mick Jagger. Isso deixa um buraco imenso não preenchido na conta bancária da mamãe, digo, na vida da criança. Não, é bem mais que isso.

Mamães normais são absolutamente possessivas com seus kids. O pacotinho ficou nove meses em sua barriga, para parir o cabeçudo foi um parto, então é natural que mulheres enxerguem a prole como sua propriedade. A mulher literalmente fabricou o ranhentinho do próprio corpo. Eu que fiz, então é meu e ninguém me tira. A ideia de que mães em geral não pensam que a única coisa que seu pacotinho precisa no mundo é delas não bate com nada observável na realidade.

Só o que o pacotinho da mamãe necessita é da mamãe e dos 200 reais do papai, é claro. O resto a gente vê depois, já que o essencial - amor de mãe e os 200 reais - já está assegurado, então não há nada de essencial que esteja faltando, especialmente após o divórcio, onde a mamãe definitivamente não quer ver o papai por perto. Somente o papai, é claro, pois o cartão de crédito do papai é sempre bem-vindo. Se for Master Black Platinum UltraTico Unlimited Pro então, é aquela alegria. O céu é azul, o sol é amarelinho, as flores nascem nos campos, o rouxinol canta e o UltraTico me encanta. Não existe isso de reclamar de buraco imenso quando o UltraTico está na mesa todo mês, sem broxar uma. O papai pode sumir para outra galáxia se quiser - o que é preferível - que está tudo zen.

Podenos provar que isso é verdade observando que assim que alguém sugerir que lares de mães solteiras tendem a fabricar cidadãos desajustados, uma correlação politicamente incorreta claramente visível em qualquer estudo estatístico que aborda o assunto, as mamães leoas vão pra TV fazer escândalo e dizer que a única coisa no universo que seu baby precisa para crescer feliz, faceiro, serelepe, saltitante e com todos os buracos imensos preenchidos é amor de mãe. Amor de mãe e reclamação por causa dos 200 reais, evidente. Mas onde está o buraco imenso na vida da criança? Juro que vi, estava aqui agora mesmo, hábil a fabricar uma série de efeitos perniciosos para a mamãe que ganha pensão de 200 reais, digo, para o baby. Sumiu, evaporou, dissolveu no ar como se fosse mágica.

Não devemos nos esquecer que um indivíduo que paga 200 reais de pensão é uma pessoa humilde ganhando em torno de um salário mínimo. Para alguém com essa renda, simples custos de deslocamento, e outros gastos que ele vai querer ter com a criança para fazer valer o pouco tempo que fica com ela, já fazem um buraco imenso no seu orçamento mesmo que sua renda não estivesse comprometida com os 200 reais, o que não é o caso.

Exigir de um indivíduo nessas condições, excluído da convivência diária com o filho e espoliado de seu poder parental, que seja um ultrapai presente e motivado é um ato de imoralidade. Post que você nunca vai ver na Internet é de mãe elogiando pai pois ele não dá um tostão, mas está sempre presente na vida do filho. Pelo contrário, se você encontrar um post desses vai ser para diminuir o pai e rotulá-lo como inútil, inepto e irresponsável por não ser capaz de contribuir financeiramente com o buraco imenso na conta bancária da mamãe.

Afeto de pai, de acordo com as mamães leoas dos 200 reais, não vale nada, mas o cartão de crédito do papai sim. E é por isso que o patriarcado tem que acabar. No dia em que mulheres souberem que não poderão arrancar mais nenhum tostão de homens porque engravidaram deles, a choradeira e o mimimi acabam. Achou ruim, as alternativas são guarda compartilhada/alternada sem pensão, ou dar a guarda pro pai, pois transferência de dinheiro do papai para a conta da mamãe em hipótese alguma vai ocorrer. Agora sim: o céu é azul, o sol é amarelinho, as flores nascem nos campos, o rouxinol canta e o fim dos privilégios patriarcais me encanta.

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