Duplo Padrão de Adultério
O duplo padrão de adultério nunca existiu, mas hoje temos o duplo padrão de gênero, onde nossa sociedade aprendeu a julgar homens e mulheres com dois pesos e duas medidas, um draconiano para meninos, a incarnação do mal, e outro benevolente para meninas, a encarnação da virtude. O correto então é incarnar ou encarnar? Tanto faz, as duas grafias estão corretas, mas o que importa é que a imagem do homem como ser pervertido e a da mulher como ser puro provavelmente sempre existiu, o que significa que sexismo sempre esteve entre nós, já que nem homens são demônios, nem mulheres são anjos.
Nunca existiu regra social de que homens podem trair, mas mulheres não. Para ambos era uma transgressão, embora a traição feminina tivesse peso maior, pois na ausência de contraceptivos há o risco de engravidar de outro homem dentro de um laço matrimonial, cujo desfazimento não era a Disneylândia que é hoje. Também não existiam testes de DNA, portanto incontáveis homens devem ter ido para o túmulo com atrozes dores na testa, na dúvida se o Juninho, que tinha olho puxado, era seu filho mesmo ou do Japa dono da padaria da esquina. O que os olhos não vêem o coração não sente, mas o problema são aqueles olhinhos puxados que toda a vizinhança está vendo. Seja lá como for, testes de DNA não mudam muita coisa, já que não é porque você pode obter um alvará de cornura que os chifres vão desaparecer.
Mesmo sendo uma transgressão, havia homens infiéis, mas a parte dessa história que nunca lembramos é que onde há corrompido, há corruptor. Onde há um homem traindo, há uma lambisgóia destruidora de lares metendo chifre em outra mulher. Chifrou uma, chifrou todas, pois meninas, o sexo puro, inocente e virtuoso, são conhecidas por sua sororidade. O problema é que toda sororidade acaba assim que elas disputam um pinto, momento em que é cada piranha por si e Frida por todes.
De acordo com as estatísticas atuais, sabemos que mulheres hoje traem tanto quanto os homens, o que mostra que, se não traíam mais os maridos no passado, era apenas por uma questão logística. Esse tipo de estatística é muito recente, portanto não sabemos ao certo se no passado homens realmente traíam muito mais ou se era tudo campanha de marketing, mero resultado do fato de que homens tinham mais liberdade para falar abertamente sobre suas conquistas sexuais combinado com a mania de contar muita lorota.
Seja lá qual for a verdade, a verdade é que histórias de cornos assassinos, aqueles que lavam a honra com sangue, abundam no nosso passado. Tais histórias não existiriam se meninas fossem o sexo comportado, mas como para matar alguém o sujeito tem que ter coragem, para cada corno com honra lavada devia haver milhares que não faziam nada. Esse é o famoso e mítico corno manso, também um personagem bastante popular na cultura. Não fazer nada tem suas vantagens. Você sempre pode dar uma de incrédulo e dizer que não sabe de nada ou não acredita nas más línguas até o fim, mas se você partir para os finalmentes, agora assinou seu diploma de chifrudo com sangue. Sou corno sim, e matei para que todo mundo fique sabendo que sou chifrudo. Enfim, um corno com atitude.
O interessante a observar aqui é que mesmo com lendas de corno assassino circulando, as mulheres ainda assim traíam, o que significa que quando a perseguida pisca, elas encaram até a morte. Essas eram guerreiras, mulheres de uma outra têmpera. Nada que se compare com as capivaretes mimizentas de hoje em dia, que acham que não têm liberdade sexual porque depois da milésima rola os meninos vão dizer que é p00t@.