Paracetaloka


 Eu falo, mas não sou ouvido, eu escuto, mas não sou boca, então fico depressivo. Nem sei mais o que fazer. O quadro não muda nunca. Sempre quando aparece uma piriguete de mimimi por causa de sobrecarga na vida doméstica, ela invariavelmente está casada com um bofe que possui um cartão de crédito taludo, potente e opressor. Qualificado, bem-sucedido, avançando na carreira e com um salário machista e misógino, o bofe patriarcal tradicional proporciona à mamãe oprimida um padrão de vida que provavelmente ela não iria alcançar por mérito próprio. 

Além do incremento delícia na renda da mamis, temos também incremento no patrimônio do qual ela é meeira, que também é formador de fundo que irá beneficiar por meio de herança seus kids. Isso sem mencionar que, se for necessário dar um pé na bunda do otário, a pensão é gordinha, então o plano B também é delícia. Tudo isso deveria deixar a mamãe super alegre, mas não. Enquanto o marido está feliz ralando duríssimo para proporcionar todas essas delícias para a mamãe, coisa que provavelmente vai matá-lo aos 50 de infarte do miocárdio, a mamãe tá deprê. Mas por quê?

Bem, o fato é que mulheres são duas vezes mais acometidas de depressão do que homens¹, então há um claro gap de gênero aqui. Maldosos vão dizer que isso ocorre porque o sistema patriarcal sobrecarrega a mulher com duplas jornadas, mas isso não procede. Índices de stress e felicidade não mudam significativamente entre mulheres que ficam em casa e as que trabalham², estando sujeitas, portanto, às intempéries da suposta sobrecarga de horas. O que temos que reconhecer aqui é que, para quem está em depressão, tudo é depressivo. 

Se há excesso de responsabilidades, isso é fonte de depressão. Caso a vida seja passear no shopping torrando o cartão de crédito do maridão, isso vai ser depressivo também. Pode comprar quantas bolsas Victorugô de 5 mil dólares quiser. Vai ter mimimi igual, então não há o que fazer, infelizmente. Só na base da terapia e do Rivotril. Em casos mais graves, eu indico 30ml diários de Rolamicina Porridurada intravaginosa em drágeas XXL. Um santo remédio, desde que aplicado por um professor malhado de Educação Física, que é o personal trem capacitado para administrar esse tipo de tratamento.

Mimimi com meninas estressadas em casa não faltou nessa época de Covid. De acordo com as pesquisas feministas, mamães que tiveram que ficar em casa estão estressadas. Observe que ninguém perguntou às mulheres que estão na rua trabalhando qual o seu nível de stress. Em toda pesquisa feminista, onde há um dado omitido, nós já sabemos o que vamos encontrar lá: números que desconfirmam a narrativa avançada. Elas poderiam ter focado no stress da mulher que está trabalhando fora de casa, mas isso iria causar um curto-circuito ideológico na pesquisadora, posto que o dado iria sugerir que é menos estressante para a mulher ficar em casa, um dado patriarcal demais para ser revelado. Por falar nisso, onde estão os dados de stress de bofes que estão trancados em casa ou na rua trabalhando para que seja possível comparar o nível de stress covídico entre os gêneros? Hummm...

No fim elas fizeram o que a metodologia empoleirada manda, que é o que possivelmente vai tratar sobre uma parcela mais expressiva da população feminina, de qualquer forma. Universo amostral, como sabemos, é que nem pinto: quanto maior, melhor. Seja como for, na amostra das mulheres estressadinhas por terem ficado em casa nesses tempos de Covid, o que podemos saber é que elas são do tipo das que a Júlia consulta na segunda semana: com filhos, chorosa, tomando tarja preta e casada com um bofe saudável, graduadão em com carreira em ascensão.

Observe que, nesses tempos de Covid, a mulherada já não tem desculpa para ir na academia. Bofe com renda delícia que consiga financiar a mamãe em casa é um necessidade, mas um personal trem para dar um trato nos glúteos e peito é fundamental. E pensar que tem gente que duvida da eficácia da Rolamicina Porridurada para controlar os efeitos do Covid. Deve ser complô da indústria farmacêutica.

Com ou sem efeitos, Júlia é possivelmente a maior prova de que a mulher moderna está desesperadamente em busca de fabricar algo que a oprima para justificar sua depressão, já que não ter nada com o que se oprimir também é depressivo. Está deprê porque um pai de família bem-sucedido está feliz por poder proporcionar uma vida de conforto à esposa em um período de convulsão econômica grave, está deprê porque muitas mulheres estão deprê por terem acesso à confortos que só um maridão delícia com situação financeira estável pode proporcionar, o que significa que está deprê também porque tem muitas pacientes. Não fosse pela depressão da mulher moderna, ela provavelmente não conseguiria ganhar a vida como terapeuta, o que significa que estaria deprê também. 

Certamente estaria reclamando que é muito opressor ser sustentada pelo maridão, já que casada com bofe que não trabalha com certeza não está. Aliás, se estivesse casada com um, estaria deprê também. Destruir o patriarcado é preciso, mas sem exageros. A destruição dos papéis de gênero leva à possibilidade de ter que sustentar macho, e sustentar macho leva à depressão, o que também é confirmado pelos números. Mulheres que sustentam o seu bofe em casa são menos felizes dos que as que as que se deprimem com maridos doutores³ que estão bem na carreira. Isso significa que, haja o que hajar, trabalho para a Júlia não vai faltar.  


Fonte: Paracetaloka Italic Bold

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