Capivaretes Replicantes
Capivaretes parecem viver em um câmara de eco digital onde replicam o que outras falam como se fosse um pensamento seu. Há várias replicações virais desse tipo nas redes, mas essa do "nunca sei o que dizer" realmente impressiona pela precisão da replicação e a quantidade. Não se gastam nem a escrever com as próprias palavras, simplesmente dão copy & paste e passam adiante a manifestação pessoal fake como se fosse um meme de sua autoria. Copiam até os erros de português. Mas é geralmente usado como conjunção adversativa. Indica ideia de oposição, de porém, todavia, contudo. Não só o mas não é mais, como não deveria estar ali, já que não há porém opondo-se à primeira oração, além de não ter função alguma na oração do fazer amor. Aquele mais é como um pentelho: além de não servir pra nada, atrapalha. Pentelhos são um pobrema, e quem tem um pobrema, como sabemos, tem dois problemas. Capivaretes memeteiras não sabem o que dizer sobre fazer amor, mas mais que isso, não sabem como dizê-lo.
Possivelmente o que detonou o ímpeto memético replicador foi a identificação com a ideia de não saber o que dizer. Capivaretes raramente sabem o que dizer sobre qualquer coisa, então apropriar-se do que azotra estão pensando é uma forma de fornecer a si a ilusão de que você é capaz de pensar alguma coisa. O meme clonado não necessariamente precisa refletir a opinião ou algo experimentado pela capivarete replicante, o que importa é que o ele seja fofinho. Nesse caso, basta replicar ipsis litteris o meme para posar de fofinha. A apropriação da fofura, além de plágio, é também um ato de sororidade: se uma não sabe o que dizer, nenhuma sabe. Super fofinho, né gêintch?
Mas se transar é desconfortável, fazer amor é forte demais, ter relação é muito técnico e foder é horrível, então o que dizer? Ora, não diga nada, apenas foda. Sexo não é verbo, é fricção. Se for impossível separar a conjunção carnal da narrativa, a solução é aceitar que foder não é horrível, não é desconfortável, nem forte demais, nem muito técnico, então que se foda-se. Nenhuma peculiaridade linguística deveria ter o poder de atrapalhar uma foda. A língua, para os que a dominam, nunca atrapalha, e é ferramenta mais do que suficiente para foder com qualquer um. Mais para mais, todavia não para menos, porém não confundir com tudo com contudo. Com tudo é avance o sinal, contudo é quando algo foi mal.