A Escolha Perpétua entre Conversação e Violência
"Tudo que temos entre nós e a falência completa da civilização é uma série de conversações bem-sucedidas. Nós vivemos uma perpétua escolha entre conversação e violência" - Sam Harris
Não há sociedade sã onde temos o conceito de discurso de ódio. Assim que isso é criado, alguém terá que decidir o que é discurso de ódio usando critérios subjetivos, já que, se fossem objetivos, o assunto não é mais ódio, e sim, caso para processo civil de reparação de danos objetivos causados pelo discurso danoso. Curiosamente no mundo do discurso de ódio, quase que por mágica coincidência, os mais interessados em definir o que é discurso de ódio são o último tipo de pessoa que deveria possuir tal poder. Poder legítimo e eticamente exercido é sempre um ônus que não é pago pelos privilégios auferidos pelo seu exercício, então qualquer indivíduo com excesso de sede por poder é automaticamente suspeito.
Não é possível prever o que vale a pena ser discutido, mas o que eu posso prever com certeza é que é o que temos que colocar com prioridade na mesa é precisamente aquilo que é espinhoso e politicamente incorreto, aquilo que causa comoção, dor e controvérsia. É assim pois assuntos sem essas características são os do tipo inócuo, que ou já são consenso, ou são irrelevantes, portanto discuti-los é um exercício de banal futilidade.
Discurso de ódio é a arma para frear discussões necessárias, já que toda discussão necessária inexoravelmente vai causar desconforto emocional em alguém. Curiosamente, indivíduos com o poder de calar outros com base em desconforto emocional arranjam todo dia uma maneira nova e criativa de sentirem-se emocionalmente desconfortáveis. Poder é um vício, e todo poder sem limites fabrica indivíduos com vício ilimitado por mais poder ilimitado.
Não há limite para a capacidade humana de encontrar pentelho em ovo, já que não é necessário nem mesmo que o pentelho exista. Se o pentelho não está ali, basta imaginar que está com fim de convencer a todos que ovos precisam de barbeadores, que, curiosamente, é o que o indivíduo enxergando pentelhos imaginários vende. Quando a coincidência é muita, isso pode ser apenas uma coincidência. Por coincidência, geralmente não é.