Dilma e o Machismo


Dilma subiu ao poder à la Tatcher. Ministra da Casa Civil do governo Lula, era a alternativa natural e mais viável do PT para receber o bastão do sapo barbudo. Ser mulher não era fato relevante. O que Dilma possuía na manga era seu passado político, que tinha no currículo inclusive estrepolias gerrilheiras subversivas da época da ditadura. Uma legítima militante companheira Che Que Varoa, tudo que era necessário para representar a bandeira petista e emplacar naquele cenário político. A esquerda brasileira era, até então, outra coisa. 

O PT tinha subido com Lula ao poder para colocar, pela primeira vez na história desse país, o governo na mão dos trabalhadores e trabalhadeiras para glória dos brasileiros e brasileiras. Também para o pavor dos professores de português, absolutamente aterrorizados com pedantismos linguísticos cata-biscoito usados para fazer populismo de gênero. Não era politicamente incorreto apontar dois gêneros ainda, pois naquela época só existiam dois. O partido tinha imagem de idoneidade e forte discurso moralizador na política. Era a esperança contra a corrupção, e tinha a luta contra as desigualdades sociais como seu slogan ideológico.

Assim que Dilma foi eleita, levei um tempo para ter o insight de que ela era primeira mulher a subir ao cargo máximo da nação, um feito inédito no país e raro no mundo. Gen X é assim. Pessoas no meu tempo tinham essa estranha e incompreensível mania de julgar os outros pelo que eles eram e faziam, não pelos genitais. A mídia tampouco estava interessada nos genitais de Dilma. Dilma mulher não existia, o que havia era a narrativa política do sucessor de Lula, uma pesada responsabilidade, já que o barbudo era estrela mundial, babado e ovacionado até na Uáiti Ráusi.

Quando Dilma sofreu o impeachment, a mídia começou a martelar machismo. Afinal, é pedalada, górpi contra democracia ou surto de misoginia? Que indecisão. Aquilo era muito estranho. Não muito tempo atrás, ninguém estava nem aí para a pepeca da chefe de Estado, escolhida sem cerimônia para substituir a estrela máxima do PT, mas agora seus genitais foram colocados na mesa. Pepecuda, no mínimo. O apoio político que sustentou seu governo era na maioria composta por homens, que naquela época ainda eram descontruídos. Assim que esse apoio evaporou, eles imediatamente viraram machistas, asseclas do patriarcado que não toleram um governo feminino. 

Hummm, sei. Meu sentido de aranha me diz que tem cheiro de bacalhau por tudo nessa truta aí, mano. Na hora de apoiar são modernos, mas na hora de puxar o tapete são retrógrados com preconceito contra mulheres? É de se perguntar se essa lorota já não foi loroteada no passado. Quando sobe ao poder é rainha governuda e comandadeira, mas na hora de ir pra guilhotina começa o mimimi aein querem minha cabeça sópoquê sou menina. Não me conta que eu não sou dinheiro, criatura empoleirada. Naquele momento mimimi sópoquê sou companheira foi a hora em que entendi que as regras do jogo haviam mudado radicalmente, e várias outras trutas com forte cheiro de bacalhau que já estava observando faz um tempo no exterior e aqui passaram a faser centido, muito centido. 

Foi praticamente uma Queda da Escrotilha, o evento que marcou o fim definitivo do meu mundo de Gen X brazuca. A Era da Lacração havia começado. Por aqui, é claro, porque lá fora a lacração já estava lacrando há bem mais tempo. O tom lacroso mimizento é característico, e pode ser observado pela tentativa incessante e onipresente de associar homens e masculinidade à corrupção, malignidade, decadência e obsolescência, enquanto associamos a imagem da mulher a tudo que é puro, elevado, louvável, competente, merecedor, crocante e pepecudo.

Isso é arte de modernete arteira importada via redes sócio-lacrais, que replicam como papagaias empoleiradas as tendências enlatadas e politicamente surtadas das gringas mais arteiras e surtadas ainda. O que temos é uma Tropicália de gênero, onde as manas brasileiras absorvem por processo generofágico as influências das manas imperialistas e icorporam o melhor da paranoia histérica do primeiro mundo ao típico chorinho mimi das brasileiras e seus privilégios patriarcais previdenciários, que arrancariam risos de qualquer sueca. 

No Feminazistão, as manas também fazem mais horas domésticas que os machos, se aposentam com mesma idade e achariam absurdo que fosse diferente. Não existe isso de reclamar de mais horas domésticas enquanto ganham cinco anos de bônus louça mais crédito princesa de sete anos de expectativa de vida. Não adianta generofagizar a reclamação se você não generofagizou antes o motivo do mimimi paranoico para reclamar, ok caturritas arteiras?

Esse audacioso grito de empoleiramento colocou na agenda sociopolítica brasileira tudo de podre que faltava ainda absorver do que foi teorizado durante a segunda onda do movimento feminista. Enfim, fui testemunha ocular da história, e assisti de camarote a metamorfose da contra-cultura em cultura aqui e no exterior. 

Empoleiradésimo.

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