A Corrida


Pais e homens interessados em filosofar sobre o fenômeno da presença paterna precisam inserir vários dados na sua caixolinha sobre os quais ninguém fala. Para começar o assunto, ser mãe presente é brisa, já que são as mulheres que detém a guarda unilateral na esmagadora maioria dos casos. Não só elas detém a guarda unilateral, que implica em custo zero para estar presente, como ainda têm sua presença materna financiada pela pensãozinha do pápi. Ninguém fiscaliza a tal presença materna nem há estudos sobre o assunto. O fato é que a mamãe pode tranquilamente entregar o pacotinho para a vovó e sair para bater perna. O pai não vai nem ser notificado nem precisa ficar sabendo. Enquanto mamãe está ausente auxiliada pela vovó, a titia ou a vizinha e financiada pelo pápi, ninguém está cortando pontos do placar presença da mamãe, então, para todos os efeitos, mulheres estão embolsando tempo injustificadamente nas suas reputações de genitor presente e responsável.

Já o papai não conta com o relógio facilitado da guarda unilateral ao seu favor e ainda destina parte da sua renda para financiar a presença materna da mamãe. O divertido é que agora o pápi terá que tirar um extra do seu bolso além do que está dando de pensão pacotinho para financiar seu deslocamento até a casa dos filhos, algo que também demanda tempo, e mais outros gastos que eventualmente terá com ele naquele período de visita. Nada disso pode ser descontado da pensão da mamãe nem do placar presença da mamãe, e nenhum ponto é adicionado ao papai por estar submetido a essas condições de presença. Supondo que o homem esteja com dificuldades financeiras, a pensão que financia a mamãe presente não poderá deixar de se paga, mas o dinheiro do qual necessita para financiar sua paternidade presente não mais existe. Adicionalmente, podemos observar que se precisar se ausentar das visitas por motivos profissionais ou mesmo por diversão, agora essa informação vai cair na boca do povo para ser somada à nota que o papai leva no concurso de genitor presente e responsável.

Aí fica fácil decretar que homens são o gênero ausente na vida dos filhos. O Estado não os considera genitores prioritários, não age como deveria agir para facilitar sua presença, e eles ainda estão submetidos a bis in idem no custo de financiar seu papel de genitor presente e responsável. Isso é o mesmo que dar a mulheres 80 metros de vantagem em uma prova de 100 metros rasos. Homens só sairão dessas olimpíadas do genitor presente sem fama de lesmas lerdas inúteis por milagre. Mas o caviar delícia mesmo vem agora, amiguinhos: na hora das olimpíadas do mercado de trabalho, essas mesmas mães guerreiras que levam 80 metros de vantagem em tudo na arena familiar vão chorar que o patriarcado é opressor pois não facilita a vida das mamães presentes no mercado de trabalho, pois elas têm que competir com os homens que estão pagando pelos 80 metros de vantagem pacotinho delas. Observe na charge que o bofe da esquerda é precisamente o mané que está financiando os obstáculos que a própria mamãe escolheu livre e informadamente colocar na sua pista ao insistir em ter filhos e/ou ficar com a guarda unilateral dos pacotinhos em troca de pensão do bofe opressor pista livre.

Pior. Ainda têm a cara de pau de dizer que, só para variar, isso é um problema de gênero, quando o fenômeno na realidade não têm gênero. Qualquer pai solteiro com guarda de filhos vai também experimentar problemas para conciliar vida profissional com cuidado dos pimpolhos. Ninguém vai ficar desenhando pistinhas cheias de obstáculos para pais solteiros e desimpedida para mulheres sem filhos que já largam tinindo na frente pois não têm que se ocupar com ranhentinhos e as tarefas domésticas adicionais. 

Também ninguém vai ser débil mental o suficiente para sugerir que pais solteiros são classe oprimida pelas mulheres sem filhos, nem muito menos dizer que eles têm que se aposentar antes delas por causa disso. De acordo com a lógica interseccional, pais solteiros são minoria oprimida e desprivilegiada em relação a mulheres sem filhos, mas como interseccionalidade no fifi dos outros é Ki-Suco de uva geladinho com rosquinhas ao mel, vamos ficar pianinho para que ninguém note que certos critérios de equidade sem fundamento nem noção só podem ser arguidos totalmente sem noção em benefício de quem tem os genitais certos. 

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