Feminismo Antifeminista


“O feminismo que defende simplesmente as mulheres pelo simples fato de elas serem mulheres é um feminismo fundamentalista e altamente antifeminista”. - Márcia Tiburi

Há muitos feminismos, inclusive o feminismo antifeminista. Não dá pra entender eu sei, mas você não entende porque é homem. Tem que ser mulher pra entender. Só mulheres dizem não querendo dizer sim, talvez querendo dizer sim, dizem sim quando querem dizer não e talvez ao mesmo tempo, etc. As meninas não operam de acordo com as leis da lógica clássica, então a melhor maneira de entendê-las é fingir que não está entendendo nada.

Quando eu digo que há algo de quântico no feminismo, o pessoal acha que estou de brincadeira, fazendo piadinha. O bagulho é sério, pô! Tá tudo filosofado, teorizado e equacionado pelas intelectuais do movimento. Na construção da teoria feminista, feministas tiveram que realizar diversos avanços nas áreas da epistemologia e da lógica. Elas conseguiram formular um conceito epistêmico avançado e inovador, o da teoria não teórica, que suportam por meio de um novo tipo de lógica não clássica, também de sua autoria, a lógica ilógica, ou lógica feminista, se preferir. 

Conforme Judith Butler e Joan Scott, teoria, no singular, é um conceito contestado dentro do discurso feminista pois feministas não acreditam no conceito de significados universalizantes. Por essa razão, nenhum enunciado dentro das várias teorias feministas tem pretensão de validade universal. O que temos aqui é a famosa teoria dos muitos feminismos, uma teoria feminista universal que nega a existência de teorias feministas universais[1]. 

Mas o que aconteceria se uma das teorias singulares negasse a teoria plural dos muitos feminismos? Sem problemas. Aí existiriam muitos feminismos mas não existiriam muitos feminismos, um estado superposto onde algo é e não é ao mesmo tempo até que alguma feminista decida se é ou não é, ocasião em que vai ser ou não ser, mas continuará sendo e não sendo também. Isso é o que permite que feministas jamais briguem entre si. Afinal, são todas Fridas. Como algumas não concordam com isso, aí dá quebra-pau. Unha no olho, voadora, tapão nazoreia, essas coisas. Às vezes o treco é tão tenso que rola até chute no saco, coisa que é possível porque o feminismo trans também é um dos muitos feminismos, embora não seja porque algumas feministas não aceitam a validade do feminismo trans.

Márcia Tiburi é filósofa, das preparadas, então pode nos ajudar a entender essa aparente confusão melhor. Segundo Tiburi, a maneira convencional de aquisição de conhecimento é um reflexo do machismo da sociedade patriarcal. É tudo muito preto no branco, verdadeiro ou falso. Lógica clássica é um produto da masculinidade tóxica, um instrumento do patriarcado para validar relações de poder, dominância e opressão[2]. 

Faz-se necessário, portanto, uma nova maneira de entender o mundo, algo menos violento, mais conciliador, mais feminino. Temos que ver o mundo de maneira diferente, um lugar onde posições contraditórias possam conviver no mesmo espaço, um sistema lógico inclusivo, livre do machismo das proposições excludentes, característico do obsoleto e tóxico modo de pensar masculino. O que temos aqui é uma lógica feminina, mais adequada aos anseios e necessidades da mulher. É uma lógica ilógica porque se fosse lógica haveria obrigação de ser coerente, e feministas criaram o feminismo justamente para isso, para que mulheres não sejam obrigadas a nada.

Tiburi, como sabemos, nega o machismo, nega a misoginia, nega o fascismo, nega tudo que ela não gosta. Aqui temos uma negação, uma ferramenta aristotélica derivada da lógica clássica. Isso é machismo, coisa tóxica, mas como a lógica feminista é conciliadora, ela aceita que conciliação e não conciliação convivam no mesmo espaço. Agora estamos em condições de entender a sofisticação e a sutileza do enunciado da filósofa que transcrevi no início. Há muitos feminismos, todos convivendo em harmonia com suas proposições contraditórias, mas se existir algum feminismo com proposições contraditórias que ela não aprova, então aquilo não é feminismo, embora seja, ou seja, um feminismo antifeminista. 

Feminismo é a Física Quântica das meninas. Se você acha que entendeu feminismo, você não entendeu feminismo. 

[1] Eu tô falando sério!
[2] Eu já disse que estou falando sério, caráleo! Pare de achar que tudo que eu falo é zoeira. Às vezes é, mas às vezes não. Seja como for, às vezes é, mas bem que poderia não ser e vice-versa. Nessas horas estou usando lógica feminista, então você não vai entender mesmo. Vai entender como se você é homem? Pede o perdão da deusa aí. E que Frida te elimine!

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