Platão & Simone


Platão possivelmente foi o primeiro antifeminista da história. O filósofo acreditava que a alma não tem gênero, e que as diferenças físicas entre homens e mulheres eram meramente incidentais. Sendo assim, pensava que mulheres deveriam ter acesso à classe dominante como os homens. Já Aristóteles era contra igualdade de gênero, e entendia que mulheres não deveriam governar. Como Sócrates só o que sabia era que não sabia, o que temos no placar dos pais da filosofia é 1/3 de machistas opressores, 1/3 de antifeministas e 1/3 de só sei que nada sei.

Simone de Beauvoir não gostava de Platão. Seu desamor platônico pelo filósofo residia no fato de que Platão acreditava que, para que mulheres governassem, deveriam se submeter às mesmas exigências que se fazia dos homens para ter tal direito. Se fosse exigido treinamento militar de homens para que governassem, o mesmo deveria ser exigido de mulheres. Tal ideia é profundamente antifeminista, já que ser obrigada a fazer as mesmas coisas que homens fazem para obter os mesmos resultados que eles é a antítese do pensamento feminista e da maneira como feministas teorizam a igualdade. 

O que temos com Beauvoir aqui é a gênese de um dos pilares centrais da teoria feminista, que é o da igualdade que não é igualdade, a igualdade que reconhece as diferenças negando as diferenças, que pretende eliminar o sexismo no mundo reafirmando precisamente o sexismo que se quer eliminar. É também uma igualdade elitista, visto que pretende distribuir justiça no rarefeito topo da pirâmide social, mas não produz, nem tem intenção de produzir, qualquer efeito na volumosa realidade da base.

No próprio exemplo de Platão podemos observar qual é exatamente o problema de Beauvoir com igualdade de gênero. Platão estava ciente de que mulheres nesse sistema estariam em desvantagem. Em razão das diferenças físicas, mais homens do que mulheres completariam o treinamento militar, o que resultaria em maior número de homens na classe dominante. Evidente que Beauvoir não se encantou com esse arranjo. A solução que provavelmente proporia seria a de "reconhecer as diferenças" eliminando a exigência de treinamento militar para os diferentes, ou seja, as mulheres, efetivamente produzindo um sistema sexista de privilégios de classe onde homens incapazes de concluir o treinamento militar não poderão integrar a classe dominante, mas toda mulher poderá fazê-lo livre dessa exigência. 

Um exemplo prático moderno de aplicação da igualdade beauvouiriana é o da distribuição de cadeiras nas universidades. Temos 90% de mulheres na Psicologia, mas como posições nessa área não produzem nenhuma desigualdade de gênero que prejudique o protagonismo feminino no topo da pirâmide social, feministas não entendem que exista alguma injustiça de gênero a ser endereçada. Ocorre que na Computação temos 20% de mulheres apenas, mas como é esperado que essa área irá produzir vários indivíduos que irão transitar no topo da pirâmide, então agora existe um problema de desigualdade de gênero que precisamos retificar.

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